Maurício Costa Romão
Antes mesmo de o PT definir neste ano quem seria o candidato do partido a presidente, e com Alckmin exibindo intenções de voto abaixo de dois dígitos, dadas ainda as potencialidades dos demais postulantes, boa parte dos analistas políticos prescrevia para a eleição em curso a reedição da antiga polarização PT versus PSDB pela sétima vez consecutiva.
Essa perspectiva se assentava nas estruturas que sempre embalaram as candidaturas destas duas agremiações. Este ano, por exemplo, a aliança do PSDB com mais oito partidos gerou uma mega engrenagem de captar votos, espraiada pelo país afora: 30% dos governadores, 54% dos prefeitos, 52% dos deputados federais, 41% dos deputados estaduais, 49% dos vereadores, 40% dos senadores, 48% do fundo eleitoral e 44% do tempo de rádio e TV.
O PT, junto com o PCdoB e o Pros, desfila números menos exuberantes, mas ainda assim é a segunda grande estrutura da eleição, perdendo apenas em quantidade de prefeitos e vereadores para o MDB, a terceira força.
Não obstante, o PSDB teve um resultado eleitoral bisonho e o PT conseguiu ir ao segundo turno (mais pela força do lulismo), porém com 18 milhões de votos a menos que o PSL, em aliança com PRTB. Estes nano-partidos não têm governadores nem senadores, apenas 0,5% dos prefeitos, 1,6% dos deputados federais, 2,6% dos estaduais, 2,2% dos vereadores, 0,76% do fundo eleitoral e somente nove segundos de tempo de rádio e TV.
É natural concluir, então, que estrutura político-partidária não teve peso nesta eleição. As explicações para tal fato já estão aflorando. Uma possível argumentação tem como epicentro as manifestações de junho de 2013.
Com efeito, naquelas insurgências, embora com demandas difusas, distinguiam-se clamores por novas práticas políticas, por serviços públicos de qualidade e contra a corrupção. As insatisfações geraram fortes sentimentos de antigoverno, antipolítica e de mudanças. Os impactos dos protestos já foram sentidos em 2014, com o PT ganhando a eleição por apenas 3,3 pontos percentuais de diferença (3,5 milhões de votos).
Neste pleito, Jair Bolsonaro, do PSL, sem estrutura nenhuma, furou o bloqueio da polarização, capitalizou essas insatisfações, e a elas incorporou o estandarte do antilulopetismo. Está bombando na preferência dos eleitores.
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Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.