VOLTA ÀS AULAS E RETROCESSO COGNITIVO

 

(Publicado no Jornal do Commercio em 18/07/2020)

 Maurício Costa Romão

 Embora os diversos sistemas de ensino se hajam mobilizado rapidamente para encetar atividades remotas na crise da pandemia, houve, devido ao inusitado do momento, mais ênfase na continuidade do processo de escolarização e menos atenção à aprendizagem, conceitos distintos.

Dessa forma, a flexibilização do afastamento social com possibilidades de retorno às atividades escolares presenciais deve levar em conta os cuidados sanitários de praxe, mas, também, os aspectos sócio-emocionais e pedagógicos dos alunos, inclusive a perda parcial de conhecimento, o retrocesso cognitivo.

Nesse contexto, o Conselho Nacional de Educação (CNE) acaba de editar importante Parecer, em fase de homologação no MEC, sobre volta às aulas em todos os níveis e modalidades educacionais no âmbito da pandemia da Covid-19.

O documento complementa o Parecer CNE/CP 5/2020, de reorganização do calendário escolar, e traz orientações educacionais para o retorno gradual de aulas e atividades pedagógicas presenciais.

Uma preocupação que permeou o documento foi a possibilidade de que o longo período de isolamento social tenha afetado de modo desigual as oportunidades de aprendizagem dos alunos, em razão dos diversos fatores sociais, econômicos e tecnológicos que limitam o contexto de ensino-aprendizagem nas atividades não presenciais.

Ademais, conforme apontado no Parecer, pesquisas e evidências internacionais indicam que uma interrupção prolongada dos estudos pode causar perda de conhecimentos e de habilidades adquiridas, quer dizer, pode acarretar retrocesso cognitivo, em especial aos alunos de nível sócio-econômico mais baixo.

Não é sem razão que tanto o Parecer 5/2020, quanto o texto recém editado, enfatizam a necessidade de se preservar o tempo investido no aprendizado, um dos mais importantes fatores do continuum de aprendizagem.

O retorno às atividades escolares presencias exigirá grande esforço de readaptação, avaliações diagnósticas dos níveis de aprendizado dos alunos, a par, naturalmente, da reorganização do espaço físico e da adoção de medidas preventivas à contaminação da Covid-19.

Enfim, o planejamento de retorno às aulas deve ser voltado primordialmente à preservação da vida, pari passu com medidas que recuperem o aprendizado e evitem a ampliação das desigualdades educacionais existentes.

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Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. mauricio-romao@uol.com.br

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