VIRADA NA EUROPA

 

Editorial do jornal Folha de S.Paulo, 07/06/2011

O resultado da eleição portuguesa no final de semana, com a vitória do conservador PSD, reforçou a interpretação de que a Europa, após a crise econômica de 2008, pende para o polo da política que se convencionou caracterizar como “direita”. Hoje, em apenas cinco dos 27 países que compõem a União Europeia (UE) persistem governos que podem ser rotulados como de centro-esquerda. No principal remanescente, a Espanha, os socialistas parecem enveredar para uma derrota nas próximas eleições gerais, cuja data-limite é março do ano que vem.

Pressupõe-se, em algumas análises, que a defesa de maior rigor fiscal pelos conservadores, assim como a disposição para cortar benefícios sociais, os tornaria mais habilitados a lidar com a turbulência econômica. A defesa enfática do interesse nacional, que por vezes desliza para a xenofobia contra imigrantes, também seria um trunfo, na ótica de populações que se sentem vulneráveis.

No entanto é precipitado conceber os resultados eleitorais dos últimos meses como sinal inequívoco de que europeus veem os conservadores como gestores melhores da crise. O terremoto financeiro abalou governos em toda a Europa; nada indica que os gabinetes de Alemanha, França e Itália, todos à direita no espectro, teriam melhor sorte nas urnas. Mesmo no Reino Unido, a coalizão de centro-direita eleita há pouco já enfrenta dificuldades crescentes.

A difícil situação por que passam os mandatários europeus advém, em parte, da própria natureza da crise. Forçados a realizar resgates bilionários para salvar o sistema bancário, comprometeram suas finanças e suas economias, que agora patinam. O socorro às instituições vem sendo pago com desemprego, recessão e esgarçamento da rede de proteção social. O eleitorado, diante disso, reage.

O caso de Portugal ilustra bem a dinâmica das mudanças na Europa. O primeiro-ministro socialista José Sócrates caiu depois que o Parlamento rejeitou mais uma rodada de medidas de arrocho. A vitória de Pedro Passos Coelho (PSD) não significou a tomada de outro caminho. Ainda antes da eleição, todos os concorrentes já haviam aceitado as imposições do Fundo Monetário Internacional para receber ajuda de 78 bilhões.
O desemprego em Portugal, acima de 12%, é o mais alto em 20 anos, e o país deve enfrentar retração de 2% do PIB em 2011 e 2012.

A pior crise econômica em sete décadas, batizada como Grande Recessão, esfacelou a confiança dos eleitores em governos de todos os matizes ideológicos.

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