Maurício Costa Romão
Parte da imprensa e dos analistas políticos destacou certas discrepâncias entre os resultados das três últimas pesquisas publicadas agora em junho no espaço de menos de uma semana: na quinta-feira (Datafolha, dia 5), na terça (Ibope, dia10) e na quarta (Vox Populi, dia 11).
Por exemplo, no Datafolha e Ibope a soma das intenções de voto dos pré-candidatos que concorrem contra Dilma Rousseff é maior do que as intenções de voto da presidente, mas dentro da margem de erro (no caso do Ibope, no limite da margem: Dilma 38% e adversários 42%). Tecnicamente não se tem segurança em prognosticar se ocorreria segundo turno, se o pleito acontecesse agora.
No Vox Populi Dilma abre oito pontos sobre os demais postulantes. A diferença está fora da margem de erro e o pleito se encerraria no primeiro turno.
Eduardo Campos cravou 13% de intenção de votos no Ibope, enquanto alcançou apenas 7% no Datafolha e 8% no Vox Populi.
O Datafolha teve 30% de não-voto (brancos, nulos, indecisos). O Ibope registrou apenas 20%.
O Vox Populi apontou Dilma com 40% de intenção de votos, ao passo que no Datafolha ela pontuou apenas 34%.
Os pré-candidatos menos competitivos conquistaram 3% de intenção de votos no Vox populi e tiveram o triplo disso no Datafolha (todos esses resultados estão expostos na tabela que acompanha o texto, segunda, terceira e quarta colunas).
Desnecessário dizer que os institutos têm metodologias distintas, planos amostrais desiguais, técnicas de abordagem diferentes, etc. Daí não ser incomum apresentarem certos resultados divergentes, mesmo que os levantamentos tenham sido feitos em dias próximos uns dos outros ou, até mesmo, nos mesmos dias (overlapping).
Aliás, é importante observar não a data da publicação da pesquisa, mas a data de sua ida a campo. Quanto mais distante for a data da realização, mais defasada está a pesquisa. É o caso dessa agora do Vox populi.
Foi a última pesquisa a ser publicada, porém a primeira das três a ir a campo (31 de maio e 1º de junho, publicada só no dia 11). A do Datafolha realizou-se nos dias de 3 a 5 de junho (publicada dia 5) e a do Ibope entre 4 e 7 de junho (publicada dia 10).
Enfim, por terem origens técnico-metodológicas diferentes, não se deve comparar resultados de uma pesquisa com resultados de outra. Isso só se faz quando as pesquisas são oriundas de um mesmo instituto.
Uma forma de atenuar discrepâncias entre resultados de pesquisas de institutos distintos é considerar a média aritmética simples desses achados. As três últimas colunas da tabela mostram as médias de intenções de voto da corrida presidencial e da avaliação do governo de Dilma Rousseff para os meses de maio (Datafolha e o Ibope) e junho (Vox Populi, Datafolha e Ibope).
No conjunto as pesquisas de maio e junho têm mostrado que:
- Dilma continua liderando em intenções de voto, mas estreitando bastante a diferença para o demais adversários, relativamente às pesquisas anteriores, o que amplia a possibilidade de haver segundo turno. Na média de maio e junho, contudo, ainda há empate técnico entre a presidente e os outros postulantes;
- Os pré-candidatos de menor densidade eleitoral estão surpreendendo, obtendo manifestações de voto de seis pontos, na média (oitos pontos em termos de votos válidos). Basta lembrar que em 2010 os seis candidatos nessa situação que concorreram à presidência alcançaram apenas 1,15% dos votos válidos;
- A popularidade da presidente está em queda contínua, tendo, na última pesquisa do Ibope, chegado ao mesmo nível de imediatamente após as inquietudes de junho do ano passado (31%). Este instituto registra, também, um percentual de ruim e péssimo (35%) maior que de ótimo e bom (31%). Isso ocorre pela primeira vez entre todos os institutos.
A campanha eleitoral começa propriamente no dia 6 de julho, um dia após o prazo final para os partidos enviarem à Justiça Eleitoral os resultados das convenções partidárias. Só depois do encerramento da Copa do Mundo, no dia 12 de julho, é que as atenções nacionais se voltam para a política e para as eleições. A partir de então as pesquisas confirmarão ou não as tendências observadas nos resultados dos meses de maio e junho.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br