César Maia
1. O Datafolha -instituto acima de qualquer suspeita- faz pesquisas em pontos de fluxo –corredores comerciais. O aconselhável, segundo estatísticos, é que duplique ou triplique a amostra em relação a uma pesquisa residencial. A teoria indica que nos corredores de fluxo a opinião pública converge e se concentra. Certo. Mas isso vale sempre para avaliação de fatos de conhecimento geral.
2. Numa pesquisa eleitoral não é assim no início da campanha eleitoral, pois as pessoas ainda não estão conversando entre elas (jogo de coordenação, na linguagem técnica) sobre as eleições com vistas a amadurecer e decidir seu voto.
3. Com isso, as favelas e comunidades periféricas não são alcançadas pela pesquisa neste início de campanha, nem direta nem indiretamente. Os candidatos que têm uma proporção maior de votos entre os mais pobres ficam abaixo do que têm. E os candidatos que têm uma proporção maior de votos na classe média ficam acima do que têm.
4. Todas as pesquisas que o Datafolha divulgou no sábado (21) devem ser corrigidas por estes fatores. Fácil de fazer para quem faz pesquisas sistemática e simultaneamente.
5. A partir da entrada da TV, o “jogo de coordenação” entre os eleitores se acelera e ganha intensidade e a metodologia do Datafolha se torna mais precisa, e precisa na parte final da campanha.
* * *
ÓTIMO+BOM DE PREFEITO-CANDIDATO É MAIOR OU, NO MÁXIMO, IGUAL À INTENÇÃO DE VOTO!
No Datafolha de prefeitos, essa regra das eleições foi observada em Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. Menos no Rio. Um natural ajuste colocaria Eduardo Paes com no máximo 45% de intenção de voto. Vejamos.
Marcio Lacerda –BH- tem pelo Datafolha 51% de ótimo+bom e 44% de intenção de voto.
Fortunati –Porto Alegre- tem 40% de ótimo+bom e 38% de intenção de voto.
Luciano Dutti –Curitiba- tem 39% de ótimo+bom e 23% de intenção de voto.
Como é possível Eduardo Paes –Rio- ter 45% de ótimo+bom e 54% de intenção de voto?
Um –digamos- erro técnico de pesquisa- ou um excesso de visibilidade do candidato que não corresponde à intenção efetiva de voto.
Num início de eleição com possibilidade de reeleição, a visibilidade de quem está no governo é naturalmente muito maior. Por isso, a avaliação dos governos em exercício é o parâmetro básico para se avaliar probabilidade de reeleição. Nas eleições dos últimos anos, o branco+nulo tem oscilado entre 6% e 8%. Portanto, a vitória no primeiro turno oscila entre 46% e 47%.
* * *
DATAFOLHA E O PRIMEIRO IMPACTO DE VISIBILIDADE DOS CANDIDATOS A PREFEITO!
1. A primeira pesquisa Datafolha –como sempre em corredor de fluxo- mostra o primeiro impacto de visibilidade dos candidatos a prefeito. Naturalmente, aqueles que são candidatos à reeleição, como é praxe, têm um crescimento inicial produto da concentração de publicidade, inaugurações e noticias, no momento imediatamente anterior ao início da campanha. Esse impacto inicial arrefece com a normalização da campanha.
2. Importante medir –nesse momento- duas coisas: o voto espontâneo, especialmente para os que são candidatos a reeleição, e a diferença para o segundo turno.
3. Em S. Paulo, claramente a eleição aponta para o segundo turno: a diferença para isso são 24 pontos a favor dos candidatos que secundam o líder. E na espontânea o líder tem 9%. No Rio com candidato a reeleição, é um quadro inverso. Os demais candidatos somados têm 24 pontos e têm que crescer na campanha 15 pontos (30 de diferença dividido por 2). Quem lidera tem 21% na espontânea. Em Belo Horizonte –com candidato a reeleição- a diferença de 12 pontos mostra que os demais candidatos têm que crescer 6 pontos para se ter o segundo turno. Na espontânea o líder tem 16%.
4. Em Recife, a eleição, como S. Paulo mostra que terá segundo turno. A diferença contra quem lidera é de 7 pontos. Em Recife –curiosamente- o candidato potencialmente favorito, apoiado pelo governador do estado, tem ainda 7 pontos. Em Porto Alegre, o prefeito atual cresceu menos que os de BH e Rio nesse início de campanha, mas assim mesmo tem 2 pontos de vantagem sobre os demais.
5. Em quase todas as campanhas com reeleição esse é o primeiro impacto de início de campanha. As máquinas governamentais já estão mobilizadas e as máquinas da oposição apenas começam a ser azeitadas.