TODOS POR UM E UM POR NINGUÉM

Maurício Costa Romão

A eleição para governador de Pernambuco neste ano de 2018 tem um aspecto singular: os três candidatos mais competitivos declararam que apóiam Lula e votam nele, inobstante sua condição atual de inelegível.

Sem desconsiderar razões outras, é inegável que impera grande dose de pragmatismo eleitoral nessa tríplice adesão: a extraordinária popularidade do ex-presidente junto aos pernambucanos.  

Daí que todos três postulantes ao governo local são Lula. Mas se todos os três são Lula, não faz sentido Lula explicitar preferência por nenhum deles. Se essa preferência não é revelada, só resta aos candidatos dizerem que apóiam e votam em Lula, mas nenhum individualmente pode alardear que tem o apoio de Lula, o que são duas coisas muito diferentes.

Não há como fugir da lógica: se todo são Lula, e Lula é todos, então Lula não é de ninguém. Ou seja, Lula deixa de ser uma variável determinante da eleição.

Segue-se daí que o que vai definir o pleito serão outras variáveis que podem influenciar a decisão do eleitor, o qual vai observar agora em que aspectos e atributos os candidatos se diferenciam.

No pleito de 2012 para prefeito do Recife o embate com o “rebelde” PSB mobilizou de tal sorte a cúpula petista que a eleição de Humberto Costa tornou-se “uma questão de honra para o PT”, no dizer do seu presidente, Rui Falcão.

A estratégia petista para defender a honra do partido foi usar massivamente sua maior e mais fulgurante estrela, Lula. Chamou a atenção a enorme carga de referências ao ex-presidente, o reiterado anúncio de sua esperada visita ao Recife (sempre adiada…), a propagação dos feitos do seu governo, a veiculação de suas mensagens audiovisuais, a divulgação de suas fotos, etc.

Na época, em artigo intitulado “Incorporado à paisagem”, escrevíamos, à guisa de peroração: “Enfim, a importância do apoio de Lula é, sob todos os títulos, inquestionável. A dúvida que persiste é se na eleição municipal do Recife, num contexto bem diferente de 2008, com seus ingredientes localistas e suas peculiaridades políticas, essa importância terá a dimensão que os petistas estão esperando. Ademais, a sensação que se tem hoje, onde praticamente não há oposição e todos são governo, é a de que de tanto se usar Lula, urbi et orbi, como apoiador de campanhas, a imagem dele já se incorporou à paisagem…”

Chega 2018 e Lula está aí, de novo incorporado à paisagem.

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Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

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