Editorial da Folha de Pernambuco, 19/11/2011
Recuando décadas atrás, mais precisamente aos anos 1956/1960, quando Juscelino Kubitschek exerceu a Presidência da República, e fazendo uma comparação com o ministério da presidente Dilma Rousseff, constataremos alguns aspectos, a exemplo da coalizão de sustentação, apesar demais de 50 anos decorridos. Kubitschek governou o País enfrentando, desde candidato, severa oposição, inclusive de natureza golpista. “Esse homem não pode ser candidato; se candidato não deve eleito; e se for vencedor, não deve tomar”, dizia a principal cassandra, o jornalista e depois governador da Guanabara, Carlos Lacerda.
Dos 24 ministros civis de JK, 16 pertenciam ao PSD e apenas 6 ao PTB, restando dois ministérios entregues a outros partidos. Daí se infere que a base parlamentar governamental, além de sólida, dependia de apenas duas agremiações partidárias de expressão política e eleitoral.
Não nos custa lembrar a composição do ministério JK: comecemos pela Agricultura, Pasta exercida por Ernesto Dornelles (PTB-RS), Mário Meneghetti (PSD-RS) e Barros Carvalho (PTB-PE). A Educação teve somente um ministro no quinquênio presidencial: Clóvis Salgado da Gama (PR-MG). A Justiça foi ocupada por quatro ministros, Nereu Ramos (PSD-SC), Eurico Salles (PSD-ES), Cyrillo Júnior (PSD-SP) e Armando Falcão (PSD-CE).
Para o Ministério da Fazenda, o presidente Kubitschek nomeou, respectivamente, José Maria Alkimin (PSD-MG), Lucas Lopes (PSD-MG) e Sebastião Paes de Almeida (PSD-MG). Relações Exteriores foi exercido por J.C. Macedo Soares (PSD-SP), Francisco Negrão de Lima (PSD-MG) e Horácio Láfer ((PSD-SP). O Ministério doTrabalho, Indústria e Comércio coube a José Parsifal Barroso (PTB-CE), Fernando Nóbrega (PTB-PB), João Batista Ramos (PTB-RS) e Allyrio Salles Coelho (PTB).
Lúcio Meira (PSD-RJ) e Ernani do Amaral Peixoto (PSD-RJ) foram os titulares do Ministério de Viação e Obras Públicas. O Ministério da Saúde foi ocupado por quatro ministros, respectivamente: Maurício de Medeiros (PSD-SP), Mário Pinotti (PSP-RJ), Pedro Paulo Penido (PSP-MG) e Armando Falcão (PSD-CE). Os ministérios militares foram exercidos , respectivamente, na Aeronáutica, pelos brigadeiros Alves Seco, Henrique Fleuiss e Francisco de Assis Melo. Houve dois no Ministério da Guerra: os generais Henrique Duffles Teixeira Lott, afastado em 1960 por ser candidato à presidência da República, substituído pelo general Odílio Denys. Finalmente, a Marinha foi comandada pelos almirantes Antônio Alves Câmara Júnior e Jorge do Paço Mattoso Maia.
Pelo se verifica, comparando-se com os tempos atuais, o número de ministérios era muito menor, mesmo que se argumente ser o Brasil ainda um país subdesenvolvido naquela época, além de o Governo ser objeto de raríssimas denúncias de corrupção, supostamente praticadas por ministros; e, finalmente, a reduzida base partidária pela qual respondiam o PSD e o PTB, facilitando o exercício do mandato.
Todos esses fatores influíram para a execução do Plano de Metas de JK, evitando desgastes como os que recaem sobre o governo Dilma Rousseff, cuja base partidária é bastante ampla, exigindo concessões da presidente para poder governar, e que tem causado sérios danos à imagem de sua administração. Os tempos são outros, diriam alguns saudosistas, porém era mais fácil governar, inclusive porque a sociedade civil vivia não tinha despertado para o combate às irregularidades, embora em número muito menor do que o atual.