POLÍTICA PATAFÍSICA

 

Fernando Rodrigues

Folha de S.Paulo, 07/11/2010

QUANDO UMA ELEIÇÃO termina, sobram alguns consensos. Em 2010, um deles é a afirmação de que os debates entre os candidatos são quase sempre enfadonhos e pouco servem ao seu propósito principal de confrontar ideias.

Chegou-se a uma situação surreal no último debate antes do primeiro turno, realizado pela Rede Globo em 30/9. Beneficiados por regras bizantinas, os dois principais concorrentes ao Planalto não fizeram perguntas um ao outro.

Dilma Rousseff não perguntou nada a José Serra. O tucano tampouco demandou algo da petista. Os candidatos tinham a seu favor as regras e queriam desviar de qualquer fricção. Os marqueteiros optaram pelo jogo na retranca, sem expor seus produtos ao risco de parecerem beligerantes.

ANARQUIA

O modelo engessado decorre de uma conjuntura lentamente construída ao longo dos últimos 30 anos. Havia uma certa anarquia na volta do país à democracia, no início da década de 80. No YouTube, é possível assistir a trechos de alguns acalorados debates entre candidatos a governador em 1982, a primeira disputa direta para esse cargo depois de muitos anos de eleições indiretas “manu militari” – durante a última ditadura (1964-85).

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