Maurício Costa Romão
Há certa divergência entre os analistas e cientistas políticos sobre se o segundo turno é uma nova eleição ou se é uma eleição disputada em duas etapas.
Um expoente da segunda vertente, Alberto Carlos Almeida, desfila estatísticas de eleições recentes no Brasil, mostrando que entre governadores e prefeitos de cidades que não são capitais, o candidato que chegou à frente no primeiro turno acabou vencendo a eleição no segundo em 71% das vezes. Para prefeitos de capitais a incidência é ainda maior, de 88%.
Para presidente o histórico de eleições é pequeno, porém eloqüente: todas as eleições nas quais houve segundo turno quem venceu no primeiro acabou sendo eleito no segundo (Collor, duas vezes Lula e duas vezes Dilma).
Independente dessas vertentes há fortes evidências de que quanto maior a vantagem de votos que o vencedor do primeiro turno tem sobre o seu principal adversário, maior é a chance de ele vencer o pleito no segundo turno. De fato, o piso inicial de votos dos dois postulantes no segundo turno é a votação deles no primeiro (as poucas exceções se compensam entre si).
A esse piso inicial se vão agregar as votações do primeiro turno que não estavam comprometidas com as duas candidaturas. No caso deste pleito, seriam os votos de Ciro, Alckmin etc., inclusive os brancos e nulos.
O resultado oficial do primeiro turno registrou Bolsonaro com 49,4 milhões de votos e Haddad com 31,4 milhões. Os votos não comprometidos com essas candidaturas somaram 26,5 milhões. Então, pela lógica acima, os dois postulantes começariam o segundo turno com estas quantidades, tendo uma diferença entre eles de 18 milhões de votos.
O Datafolha desta semana deu uma pista de como os votos dos não comprometidos estão sendo distribuídos: 52% para Haddad e 48% para Bolsonaro. Por causa do estoque maior de votos de Bolsonaro, a vantagem dele ainda é de 17 milhões de votos.
Alguns fatores determinantes de votos aos candidatos no segundo turno (apoiamento político-partidário, desempenho na campanha e nos debates etc.) podem ainda vir a ter certo peso, mas dificilmente afetarão o resultado de uma eleição que já se mostra definida.
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Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.