Roberto Magalhães
Jornal do Commercio, 27/04/2011
É fato conhecido por historiadores e cientistas políticos que o México foi governado pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI) de 1929 a 2000, sob uma estrutura política e de poder, segundo o figurino formalmente democrático e republicano, com eleições, direito de voto e separação de poderes.
Mas o PRI era o partido de sucessivos presidentes da República, e tendo o poder como instrumento, obtinha sempre vitórias eleitorais, ao ponto de um candidato a presidente pelo PRI eleger-se com 95,7% dos votos válidos. Segundo Luís Virgílio Afonso da Silva, o México adotou de 1824 até 1962, o sistema eleitoral de distritos com voto majoritário e unipessoal, o que limitava a formação de uma oposição consistente contra a maioria governista quase vitalícia.
Esclarece, ainda, que a reforma de 1962 suavizou o rolo compressor governista, mas somente na década de 90, com a eleição do presidente Vicente Fox, teve fim a “ditadura democrática” do PRI. Recentemente, encontrei um artigo do senador Jeferson Péres, na Folha de S.Paulo de 5/2/2004, sob o título Mexicanização em marcha? Parece incrível, que ainda no primeiro mandato de Lula, o senador vislumbrasse com argúcia o que ainda estava por vir.
Ele lembra que o PRI e o governo dominavam o poder e a sociedade. Domínio exercido mediante o aparelhamento da estrutura do Estado, o controle das máquinas sindicais e o anestesiamento dos meios de comunicação. Um sistema que Vargas Llosa chamou de “ditadura perfeita”. Discordo apenasdo anestesiamento da imprensa, pois ela tem sido a voz predominante para denunciar e se opor às versões de uma propaganda massiva do governo federal, em defesa do pensamento único oficial.
É isto o que temos assistido no Brasil, inclusive a tentativa do poder de restringir a liberdade de imprensa, como ocorre há quase dois anos, com o Estadão, que está proibido de noticiar escândalo que envolve membro da família de ex-presidente da República. O Brasil não vive uma cópia exata do modelo mexicano do PRI, uma vez que os tempos são outros e a globalização exige meios mais sofisticados na monopolização do poder. Temos hoje um episódio em curso, a criação do PSD de Kassab, que enfraquecerá a oposição, e o que Lula pregou publicamente, ao dizer que era preciso arrasar o DEM. No caso, o PSDB também será atingido.
Pergunta-se: coincidência ou manobra da base governista? Resta aos oposicionistas que se dispõem a resistir, na luta pela causamaior, colocar em segundo plano as ambições e os projetos pessoais, unindo ideias e forças para conter a iminente mexicanização do País.
Roberto Magalhães é advogado
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