
Maurício Costa Romão
Os números da pesquisa de intenção de votos do IPMN para prefeito do Recife, com trabalho de campo nos dias de 3 e 4 de setembro, divulgados ontem na web pelo LeiaJá, NE 10 e blog de Jamildo, e nesta sexta-feira, com mais detalhes, pelo JC, trazem algumas informações importantes.
Reversão de tendência
A primeira é de que não há reversão de tendência de intenção de votos relativa às candidaturas de Geraldo Júlio, Humberto Costa e Mendonça Filho (vide Gráfico que acompanha o texto). Geraldo continua em acentuado crescimento, ocupando agora a liderança das pesquisas IPMN. Humberto e Mendonça seguem em trajetórias de queda, com curvas declinantes muito assemelhadas, diferindo apenas em termos de escala.
A segunda é a constância das intenções de voto de Daniel Coelho até o início do guia eleitoral, sempre tangenciando a casa dos 6%. A partir de então há uma ruptura na tendência e o candidato cresce em intenções de voto, ligeiramente fora da margem de erro, a ponto de ultrapassar Mendonça Filho e assumir a terceira colocação.
Guia eleitoral
Uma hipótese que se pode aventar aqui é a de que se o horário de rádio e TV trouxe alguma modificação no quadro eleitoral que se descortinava antes do seu início, essa modificação operou-se em favor de Daniel Coelho, o único a reverter tendência entre os quatro principais candidatos.
Relativamente a Geraldo, Humberto e Mendonça é difícil mensurar se o guia contribuiu para manter a ascensão do primeiro e cristalizar a queda dos últimos. Numa aproximação inicial, baseada nas trajetórias de intenção de votos dos três candidatos, inclusive de pesquisas de outros institutos, dir-se-ia que mesmo sem o guia eleitoral essas trajetórias teriam o mesmo perfil, no máximo, com mudanças marginais de configuração.
Fonte de crescimento
Entre a última pesquisa IPMN de agosto e esta primeira de setembro, o crescimento de intenção de votos de Geraldo Júlio foi de 12 pontos, em números arredondados. Daniel Coelho, por seu turno, que patinava ao redor dos 6% de intenção de votos, subiu também e agora ganhou 6 pontos adicionais.
Enquanto isso, Humberto e Mendonça perderam 5 e 6 pontos, respectivamente, entre uma pesquisa e outra. Os votos em branco e os nulos diminuíram 6 pontos, enquanto que os votos dos indecisos permaneceram iguais em 8%. No total, então, foram 18 pontos perdidos e conquistados, tudo em números arredondados.
Assim, Geraldo, para ter subido 12 pontos, provavelmente tirou votos de Humberto, de Mendonça e dos brancos e nulos. Não se sabe quanto de cada, mas é quase certo que se alimentou das três fontes. A maior aderência do recifense à postulação pessebista resulta, portanto, da migração de votos de outras candidaturas e da conquista de parte dos eleitores que intentavam anular o voto ou não votar em ninguém, o que, aliás, já havia sido detectado em pesquisas anteriores. E isso explica, inclusive, a aceleração de seu crescimento: seus votos provêm de várias vertentes.
Já a subida de Daniel, de 6 pontos, não é possível ser identificada de onde se originou. Pode ter sido de uma, de duas ou das três possibilidades. Mas essa mudança de patamar de Daniel é um fato novo importante que pode gerar desdobramentos mais à frente.
Primeiro turno
Um dado interessante das duas últimas pesquisas é o de que a queda de intenção de votos de Mendonça Filho tem sido compensada pelo crescimento de Daniel Coelho, de sorte que, no conjunto, a oposição permanece com 21 pontos de percentagem. Isso é importante, sobretudo, como sinalizador da permanência de um núcleo resistente à migração adicional de votos para a postulação de Geraldo Júlio, já que é ele que tem crescido sistematicamente nas pesquisas.
As intenções de voto de Humberto vêm, de forma até surpreendente, descendo ladeira abaixo, deixando para trás o famoso piso dos 30% de votos que o PT teria no Recife. A questão é: se não reagir, até onde vai parar essa sangria nas hostes petistas?
Mesmo quando o senador estava com intenções de voto gravitando no entorno de 35%, suas manifestações espontâneas de voto situavam-se ao redor de 23%, e ainda hoje permanecem praticamente nesse patamar, mesmo com uma perda de quase 10 pontos de percentagem na modalidade estimulada. Isso sugere, grosso modo, um piso para o descenso de votos do petista, algo como 22% ou 23%.
É oportuno lembrar também que a fonte da categoria de votos brancos, nulos e indecisos se está esgotando (no dia da eleição projeta-se um resíduo de cerca de 10% de votos brancos e nulos) e que os “outros” candidatos – referência aos postulantes menos competitivos – devem chegar ao dia 7 de outubro com mais de 2% dos votos totais.
Desse modo, para o pleito se encerrar na sua primeira etapa, Geraldo Júlio teria que atingir um percentual ligeiramente acima dos 45% de intenção de votos totais (supondo que, realmente, a categoria de brancos e nulos atinja 10% ao final da eleição). Mas, como se viu acima, esse atingimento, embora perfeitamente possível, não é assim tão líquido e certo: Humberto, a oposição, os “outros” candidatos e a categoria de votos brancos, nulos e indecisos teriam que ter menos que 45% de intenção de votos totais.
Tudo isso torna o quadro ainda confuso, não no que diz respeito à liderança do processo, que continuará cada vez mais com Geraldo Júlio, mas à possibilidade de a eleição ter desfecho no primeiro turno. Portanto, é mais prudente aguardar as próximas pesquisas do instituto IPMN que serão realizadas, a partir de agora, semanalmente.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.