
Fernando Rodrigues
Folha de S. Paulo, 06/10/2010
BRASÍLIA – A frase mais ouvida nesta época a cada quatro anos é esta: “Segundo turno é outra eleição”. Empulhação pura. Segundo turno é a mesma eleição.
Não que viradas estejam proibidas de acontecer. São apenas fatos raros. Em eleições presidenciais, já houve três segundos turnos: 1989, 2002 e 2006. Quem começou na frente sempre acabou vencendo.
A possibilidade de segundo turno foi criada em 1988. Nas eleições de governadores, usou-se o instrumento pela primeira vez em 1990. De 1990 a 2006, houve 70 segundos turnos para escolher governadores. Em 20 dessas disputas houve viradas: quem terminou o primeiro turno atrás acabou passando à frente na rodada de votação final.
Em termos percentuais, 29% dos segundo turnos de governadores tiveram viradas. Seria um exagero dizer que essa é a chance de José Serra (PSDB) passar Dilma Rousseff (PT) na eleição presidencial de 31 de outubro. Mas trata-se da única medida objetiva disponível com base no comportamento dos brasileiros em eleições passadas.
Outro dado relevante é a vantagem com a qual Dilma terminou o primeiro turno. Ela teve 46,9% dos votos: 14,3 pontos à frente dos 32,6% de Serra. Nas 20 viradas em eleições estaduais, só uma vez a distância entre o primeiro e o segundo colocado superou essa atual entre a petista e o tucano.
Esse episódio raríssimo se materializou na eleição envolvendo o perdedor profissional Hélio Costa (PMDB), em 1994. Ele havia obtido fantásticos 48,3% para ser o governador de Minas Gerais. Seu adversário, Eduardo Azeredo (PSDB), ficou 21,1 pontos atrás, com 27,2%. No segundo turno, o tucano foi a 58,6% e faturou o Palácio da Liberdade – em pleno Plano Real e turbinado pela eleição de FHC.
Agora, por enquanto, a virada de Serra depende da milícia antiaborto. Não há Plano Real para ajudar. Embora tampouco se saiba se Dilma tem vocação para Hélio Costa.