QUEM VAI VENCER AS ELEIÇÕES

Ricardo Young
Folha de S.Paulo, 27/09/2010

O que mais me chama a atenção neste processo eleitoral é que a maior vitória não será de nenhum candidato ou partido, mas da mobilização da sociedade civil em favor da ética e contra a corrupção.

A aprovação da Lei da Ficha Limpa, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de torná-la vigente já nestas eleições e o empate na votação do STF sobre a aplicação da lei ainda este ano mostram a força deste movimento.

Sem a cidadania consciente e organizada, é bem possível que esta lei que impõe critérios mínimos de integridade para candidatos a cargos eletivos nem fosse protocolada no Congresso.

É interessante como pouco se comenta sobre estes movimentos contra a impunidade.

A maior parte deles teve início ainda nos anos 90 e na classe média. Crescendo à sombra (e sem a confiança) das lutas por terra e trabalho, os movimentos pela ética assumiram aos poucos o protagonismo do processo político e social. Não haverá acordo, consenso ou leis confiáveis se prosperarem no país a corrupção, o suborno e a impunidade.

A luta pela ética é hoje bandeira de qualquer entidade e a mobilização cresce principalmente em períodos eleitorais.
Pois reside principalmente no financiamento de campanhas a origem de toda a corrupção no país, do lobby irresponsável e dos apadrinhamentos às licitações viciadas e ao roubo puro e simples do erário.

Para acabar com estas falcatruas, centenas de milhares de brasileiros são hoje militantes em favor da ética. Uma parcela significativa deles reuniu-se na Articulação Brasileira Contra a Corrupção e a Impunidade (Abracci).

Fundada em 2009, essa organização congrega em rede pessoas, entidades e ONGs que lutam pela integridade e pela transparência na política, na economia e na sociedade. Entre os integrantes da Abracci encontra-se a Amarribo, a Associados Amigos de Ribeirão Bonito, uma das primeiras organizações cidadãs de combate à corrupção.

A Amarribo foi criada em 1999 pelos moradores-amigos de Ribeirão Bonito, no interior paulista, que decidiram entender por que a cidade não prosperava. Foram fundo no estudo do orçamento municipal e descobriram muito desvio de dinheiro público.

Perceberam também que a participação constante dos moradores seria o melhor controle anticorrupção e a fonte de soluções criativas para os problemas da cidade.

O resultado foi tão bom que surgiram outras associações parecidas em várias cidades brasileiras. Algumas delas, hoje, estão na Abracci, mostrando a juristas e parlamentares que lei e vontade popular andam juntas e garantem a coesão social, sem tolher a liberdade.

Aos poucos, estamos construindo nossa República.

RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.

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