QUANDO 99% TRABALHAM PARA ENRIQUECER 1%

 

Paulo Moreira Leite

Época

Apud Blog do Noblat, 22/10/2011

Em sua edição que se encontra nas bancas a revista Economist, uma espécie de leitura obrigatória da elite mundial, publica um artigo que serve como advertência aos leitores que imaginam ser possível aplicar a tática do avestruz — aquele costume de enfiar a cabeça na areia para não tomar conhecimento dos problemas…

No texto, a Economist lembra que a crise dos países desenvolvidos é muito grave e séria. Também reconhece que os protestos de Wall Street e dezenas de países europeus tocam em problemas de verdade, que exigem respostas eficazes. A revista argumenta que seria um erro comparar os protestos de hoje com manifestações radicalizadas do passado, como aconteceu em Seattle, em 1999, cenário de um grande confronto de entidades sindicais e ONGs contra a Organização Mundial do Comércio.

Pelo texto da revista, pode-se concluir que,  embora seja possível encontrar muitas semelhanças com este e outros episódios, a principal diferença se encontra numa realidade objetiva: o desemprego, a falta de crédito, a vida cada vez mais cara. A diferença é simples, poderíamos acrescentar. Nos protestos anteriores, as questões ideológicas tinham um peso determinante. Protestava-se contra a globalização. Denunciava-se os prejuízos que o livre comercio iria produzir nos países desenvolvidos. Mas falava-se de risco, de ameaça, de perigo futuro. Em 2001, os protestos falam da realidade presente.

Se o capitalismo sempre foi um regime desigual e excludente, permitindo que o Premio Nobel Joseph Stiglitz construísse a formula panfletária mas eficaz segundo a qual vive-se num mundo onde 99% trabalham para que 1% enriqueça, que tornou-se o slogan favorito de Wall Street, em 2010 e 2011 essa realidade tornou-se especialmente nociva e insuportável.

A desigualdade atingiu um patamar indecente mesmo em países habituados a pensar sua vida social com padrões aceitáveis para a maioria. Não é só uma questão moral nem de visão de mundo. Muita gente é a favor da desigualdade — em especial, quando se encontra no lado agradável da equação. Mas chegou-se a um ponto em que ela prejudica a economia, atrapalha o crescimento, com concordam economistas de correntes muito diferentes.

Como lembra a revista, o desemprego atinge mais de 40% dos jovens da Espanha, 17% dos norte-americanos, e, na média, mais de 20% em todos os países da Europa, menos Alemanha, Holanda e Austria. Examinando os adultos, fala de salários decrescentes. Quando chega nos idosos, mostra que na Inglaterra, por exemplo, a inflação anual já passou de 5% mas as poupança rendem 1,5%.

Neste ambiente, a Economist se afasta do coro de  economistas mais obtusos, adeptos de uma política de austeridade para, em nome da pureza do mercado, promover uma regressão histórica capaz de tornar a mão-de-obra européia tão atraente como a chinesa ou peruana.

Sem abandonar seus pontos-de-vista conservadores, a revista afirma que é hora de crescer e colocar estímulos na economia. Segue favorável a suas idéias anteriores, como elevar o piso para o inicio das aposentadorias e reduzir outros
benefícios do Estado de Bem-Estar social, mas admite que isso pode ser negociado para um segundo momento. Agora, diz ela, o importante é crescer.

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