
Maurício Costa Romão
As pesquisas IPMN para prefeito do Recife levadas a efeito desde o início da campanha eleitoral de 2012, efetivamente iniciada depois das convenções partidárias, trouxeram muitas e inesperadas novidades no panorama eleitoral da cidade: (a) o meteórico crescimento de Geraldo Júlio; (b) a sistemática queda de intenção de votos de Humberto Costa e de Mendonça Filho; (c) e a repentina e ascensional mudança de patamar das intenções de voto de Daniel Coelho, após o início do guia eleitoral.
Este texto se detém apenas no contínuo decrescimento de intenção de votos de Humberto Costa ao longo desses quase três meses de campanha.
Não obstante o desgaste que permeou a definição de sua candidatura à prefeitura do Recife, com sequelas internas e externas, o PT iniciou a contenda eleitoral deste ano exibindo apreciáveis ativos: a reconhecida força da sigla na capital, os méritos do candidato principal combinados com a densidade eleitoral do seu companheiro de chapa, e o apoio de Lula, sua maior e mais reluzente estrela.
Apesar de toda essa musculatura, no bojo da qual se incluía a liderança que o partido detinha na primeira pesquisa IPMN de julho (36% de intenções de voto para Humberto Costa), com larga margem de diferença para o segundo colocado, a campanha petista não empolgou o recifense, nem mesmo a aguerrida militância da sigla, e foi, paulatinamente, perdendo adeptos (vide gráfico que acompanha o texto, mostrando a contínua e decrescente evolução das intenções de voto de Humberto Costa).
Basta dizer que neste último levantamento IPMN dos dias 20 e 21 deste mês (Geraldo Júlio 38% de intenções de voto, Daniel Coelho 22%, Humberto Costa 16% e Mendonça Filho 6%) o senador perde a segunda posição para Daniel Coelho, abrindo a possibilidade de não ir para o segundo turno, se houver.
Desde o início da série, em 9 e 10 de julho, Humberto Costa perdeu nada menos que 20 pontos de percentagem. Considerando as abstenções e os votos brancos e nulos das eleições de 2004 e 2008, e projetando suas médias para o pleito deste ano, esses 20 pontos equivalem a uma perda aproximada de 184 mil eleitores (o PT tinha 330 mil eleitores no primeiro decêndio de julho e agora só tem 146 mil).
Como a categoria de votos brancos, nulos e indecisos está diminuindo desde a primeira pesquisa de julho e Mendonça Filho também vem caindo, segue-se que esses 184 mil eleitores que abandonaram o barco petista aportaram nas candidaturas de Geraldo Júlio (hoje com 348 mil eleitores) e Daniel Coelho (agora com 201 mil eleitores), os únicos a crescerem.
Não dá para saber exatamente quantos desses eleitores que desistiram de Humberto foram para Geraldo e quantos foram para Daniel. Essa dificuldade de mensuração decorre do fato de que estes dois candidatos terem sido beneficiados também, no período em apreço, da perda de eleitores de Mendonça Filho (137 mil) e da diminuição da categoria de votos brancos, nulos e indecisos (108 mil).
O fato é que os números de Humberto Costa seguem em queda livre e de há muito já deixaram para trás o famoso piso de 30% que, supostamente, teriam os petistas na capital. Tal vexame se deve a uma combinação de fatores:
(a) a incrível e incompreensível chafurdação que permeou o afastamento de João da Costa e a consequente imposição da candidatura de Humberto Costa;
(b) a inesperada atitude do governador Eduardo Campos de lançar candidatura própria do PSB, praticamente isolando o PT e arrastando para o entorno do Palácio quase toda a Frente Popular;
(c) a avaliação negativa da atual gestão da cidade que impôs ao partido uma tremenda saia justa para defender o legado da administração dos doze anos à frente do município;
(d) a continuidade, durante a campanha, das brigas internas no seio do partido, reverberadas ad nauseam na mídia;
(e) as propostas para a gestão da cidade e o guia eleitoral que não empolgaram os eleitores (o guia de Humberto é, disparadamente, o mais mal avaliado pelos eleitores nas pesquisas IPMN) e, por último,
(f) o uso exclusivo e extensivo das falas e imagens do ex-presidente Lula acompanhado de exagerada carga de referências ao ex-presidente, à sua esperada visita ao Recife, aos feitos do seu governo, etc. (a chamada lulodependência).
A questão que se coloca hoje entre os analistas é a possibilidade de Humberto Costa cair ainda mais nas pesquisas, sobretudo porque se detecta entre os eleitores um enorme sentimento de que o “PT deve dar lugar a outro partido na prefeitura”. Um forte indício dessa vontade popular está expresso na resposta que o eleitor tem dado à seguinte pergunta nas pesquisas IPMN:
“Em sua opinião, o PT merece continuar à frente da prefeitura do Recife?” No início de julho, 56% responderam que sim e 40%, que não. Agora, nos dias 20 e 21 de setembro, 24% disseram que sim e 70%, que não!
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.