Por Maurício Costa Romão
A conquista de prefeituras em eleições majoritárias é vista sempre como capital político-eleitoral que confere mais envergadura a qualquer agremiação partidária. Naturalmente, quanto maior o número de prefeitos eleitos, tanto mais apreciável é a musculatura e prestígio que a sigla adquire.
Há, entretanto, algumas ressalvas que precisam ser feitas em relação à interpretação que se dá a essas conquistas. É oportuno ilustrar esse ponto mediante a apresentação de um exemplo concreto relativo ao último pleito municipal em Pernambuco, majoritário e proporcional. As Tabelas do texto trazem um apanhado de alguns resultados do pleito de 2008 nos municípios pernambucanos, mostrando a classificação dos partidos de acordo com a quantidade de prefeitos eleitos, votações e outros indicadores correspondentes.
O PSB lidera o ranking de prefeituras conquistadas, com um total de 49, o que representa 26,6% dos municípios do estado. Nesses municípios e em outros nos quais disputou eleição, o partido socialista recebeu um total de 728.892 votos para Prefeito e 500.870 para Vereador. Um dado expoente da Tabela, o da quarta coluna, mostra que as 49 prefeituras em que o PSB logrou eleger representantes governam nada menos que 1.021.107 eleitores.
Aqui já cabe um primeiro contraste: o PT, com apenas oito prefeituras, tendo recebido menos votos para Prefeito (686.115) e para Vereador (368.032), governa um eleitorado maior (1.247.535) do que o PSB, por conta da assunção do partido ao maior colégio eleitoral do estado, o Recife, que tem 1.108.385 de votantes. Por outro lado, não fora a conquista deste colegiado e o PT governaria apenas 139.150 eleitores.
Nessa mesma linha de comparação, o PDT elegeu menos de um terço da quantidade de Prefeitos que o PR e, no entanto, recebeu mais votos para as eleições majoritária e proporcional do que este partido e, ademais, credenciou-se a governar localidades com quase o mesmo número de eleitores. É digno de nota, ainda, o fato de o PR com 30 prefeituras ter tido desempenho muito aquém do PSDB, que elegeu 17 mandatários municipais. Em outras palavras, há que qualificar essas conquistas numéricas de prefeituras, levando-se em conta, como fator de ponderação, a representatividade dos respectivos colégios eleitorais.
Por exemplo, é comum alguns parlamentares se vangloriarem do número de Prefeitos que foram eleitos emprestando-lhes apoio, a eles se referindo como “tenho tantos Prefeitos”, o que é bastante depreciativo aos mandatários municipais, em primeiro lugar, e, eleitoralmente, não quer dizer muita coisa se esse número não for embasado por qualificativos (essa forma de fazer menção aos chefes dos executivos municipais pode ser denominada de “coisificação dos Prefeitos” – significando a postura de alguns políticos que consideram o apoio que lhes é dado pelos aliados algo como patrimônio pessoal, extensão de sua propriedade).

Nesse contexto, com efeito, é fundamental atentar inicialmente para a dimensão dos colégios eleitorais. No conjunto dos 185 municípios de Pernambuco, por exemplo, apenas 11 deles têm populações acima de 100.000 habitantes. Naturalmente, os maiores colégios eleitorais do estado estão nesses municípios. A segunda Tabela desse texto mostra os contingentes populacional e eleitoral desses colégios, bem como os partidos que os administram. Siglas que conseguem eleger representantes para essas cidades já saem politicamente mais fortalecidas e eleitoralmente na frente de muitas outras que, mesmo com maior número de Prefeitos eleitos, o fazem em municípios de menor porte. O fator quantidade – número de prefeituras – é, portanto, bastante relativo.
O exemplo mais proeminente a esse respeito é o do PT, que conseguiu eleger o mandatário da capital recifense, cujo contingente eleitoral beira a um quinto do total do estado, que é de 6.067.589 eleitores (dados de 2008). Ganhar aí equivale a superar vencedores em dezenas de outros municípios. Mas há outros exemplos dignos de menção, como o do pequeno PC do B. A sigla teve apenas quatro Prefeitos eleitos em 2008, sendo dois deles na Região Metropolitana do Recife, Olinda e Camaragibe, 3º e 8º contingentes eleitorais do estado, respectivamente. Por conta disso as quatro prefeituras do PC do B, em termos de eleitores governados, quase equivalem as 30 do PR, superam as 10 do PMDB e também ultrapassam as 19 do DEM.
Em síntese: não se pode avaliar “força” política de um partido apenas pelo seu desempenho eleitoral, medido pelo número de prefeitos eleitos em dado pleito. É fundamental, para efeito de cotejo, ponderar esse desempenho por algumas variáveis, principalmente pelo número de votos que o partido recebeu nos municípios conquistados e pelo contingente eleitoral que por ele será governado.