Por Maurício Costa Romão
Na eleição de 2010 o Instituto Datafolha desenvolveu uma interessante técnica de mensurar o potencial de transferência de votos de um determinado governante ou líder político para um candidato por ele indicado ou apoiado.
Com base nas suas pesquisas regulares de intenção de votos o Datafolha iniciou, em dezembro de 2009, o processo de coleta de informações que lhe permitiram aquilatar o potencial de transferência de votos do principal protagonista da eleição passada – presidente Luís Inácio Lula da Silva – para sua candidata ao executivo nacional, Dilma Rousseff (PT).
Esse potencial de transferência é captado nas pesquisas pelo percentual de eleitores que afirmam que votariam “com certeza” no candidato indicado por Lula, mas não declaram voto em Dilma Rousseff, nem sabem que ela é apoiada pelo presidente.
Veja-se que a metodologia exclui de pronto os entrevistados que já haviam declarado intenção de votos em Dilma, até porque fica difícil detectar quanto por cento dessas intenções deveram-se a eleitores que votariam na candidata independente de ela ser ou não apoiada por Lula, e quantos por cento o fariam por influência do então presidente.
O foco então é apreender o percentual de respondentes que afirmaram não votar na postulante do PT, mas que “com certeza” votariam em um candidato apoiado por Lula. Dentre esses que categoricamente disseram que seguiriam a orientação do presidente há que se descontar os que sabiam que Dilma era apoiada por Lula. A diferença entre essas duas categorias pode ser considerada como um proxy para o potencial de transferência de votos.

Como se pode observar no gráfico acima, o potencial de transferência manteve-se no patamar de 14% de dezembro a março e vem declinando desde abril, atingindo sua menor taxa, 8%, na última pesquisa dos dias 30 de junho e 1de julho do corrente. Quer dizer, por esse critério de mensuração, o presidente Lula, que tinha 14 pontos de percentagem de capacidade de transferência de votos para passar a sua candidata, viu esta capacidade diminuir para 8 pontos.
Levando-se em conta que o número de eleitores do Brasil no pleito passado gravitou no entorno de 135 milhões (dados do TSE para julho de 2010), os 8% de potencial de transferência de votos de Lula para Dilma andava pela casa dos 10,8 milhões de eleitores, mas já havia chegado ao redor de 18,9 milhões.
É oportuno saber como se chegou a esses 8%. Segundo matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, no domingo, dia 4/07/2010, dos eleitores entrevistados na última pesquisa do final de junho e início de julho, 38% responderam que votariam em Dilma e 68% que não votariam. Entre estes 68% que não tinham intenção de votar em Dilma, 12% disseram que votariam “com certeza” em um candidato apoiado por Lula.
Porém, entre esses 12%, dois terços (8%) não sabem que Dilma é a candidata que o presidente Lula está apoiando, ao passo que 4% sabem que ela é a candidata de Lula.
Como nas pesquisas de maio e junho/julho Dilma oscilou positivamente de 37% para 38% de intenções de voto, fica difícil estabelecer uma relação mais nítida com a queda do potencial de transferência de 11% para 8% nos referidos levantamentos.
Tivessem as intenções de voto da candidata situacionista caído, a correspondência com o potencial de transferência seria mais clara: a diminuição das intenções de voto poderia ser atribuída à perda de capacidade de transferência de votos de Lula para Dilma.
Com base no detalhamento do perfil desses eleitores potenciais que, de acordo com a mencionada reportagem, são “pessoas pobres, com baixa escolaridade, e concentradas no Nordeste”, o cientista político Amaury de Souza afirma ser “ilusório achar que pessoas desinformadas vão de repente ter a informação “correta” e passar a votar em Dilma”.
Ainda de acordo com Souza, “a possibilidade de que esses eleitores descubram que Dilma é a preferida de Lula é tão plausível quanto a de que identifiquem José Serra (PSDB) como candidato do presidente”.
Um dado revelador da desinformação desses eleitores, captada nos levantamentos de dezembro 2009 a junho/julho 2010, é o de que eles apoiavam o indicado de Lula, mas declaravam voto em José Serra (PSDB), o principal candidato de oposição à postulação petista. Na última pesquisa Datafolha, esse contingente representou 17 % das intenções de voto de Serra. Tal percentual vem caindo desde dezembro do ano passado, embora haja experimentado ligeira oscilação positiva entre abril e maio, conforme se depreende do gráfico a seguir.
