
Maurício Costa Romão
No quesito “avaliação de governo” os institutos de pesquisa costumam inquirir os respondentes de duas maneiras: uma, indagando se o mandatário está realizando uma administração “ótima, boa, regular, ruim ou péssima”, outra, instando-os a declararem se “aprovam ou desaprovam” a gestão em andamento, ou a maneira de governar do gestor.
Esta última forma é mais direta, intuitiva, de fácil interpretação. Seus resultados numéricos não deixam margem a dúvidas: 60% de Aprova, 30% de Desaprova e 10% de não sabem, não responderam, suscitam logo a conclusão de que a administração é aprovada pela população.
Entretanto, ao se resumir à dualidade aprova/desaprova, a questão deixa de fora do leque de opções do entrevistado as eventuais manifestações intermediárias entre as duas indagações.
Muitas pessoas que gostariam de expressar algum sentimento diferente do binário Aprova/Desaprova, tipo “aprovo algumas coisas, mas desaprovo outras”, “a administração está mais ou menos”, etc., não encontram espaço para fazê-lo.
A pergunta força o respondente a encaixar-se na dualidade apresentada. A única válvula de escape que ele tem é através do “não sabe, não respondeu”, embora haja maneiras técnicas de se identificar “pesos” na resposta “regular” do entrevistado, através de cruzamentos com a categoria que vai de ótimo a péssimo.
Já a mais usual pergunta, a da categoria que vai de Ótimo a Péssimo, oferece cinco alternativas ao entrevistado. É quase exaustiva. Por envolver cinco opções, a pergunta se torna um pouco mais complexa para o respondente, porém pode ser considerada de relativa assimilação, exceto, talvez, pela abrangência da palavra “Regular”.
Quando o entrevistado diz que a administração é Regular, ele está buscando situar-se fora do espectro de “ótimo e bom” e de “ruim e péssimo”, reconhecendo, contudo, que a gestão tem pontos bons e ruins e, até mesmo, ótimos e péssimos.
Submetido ao maniqueísmo da questão Aprova/Desaprova, sem a possibilidade de uma escapatória via “Regular”, o eleitor é menos severo e prefere dar um conceito maior ao governante.
Fica constrangido e, até mesmo, lhe acomete sentimento de remorso em não reconhecer algumas coisas positiva na gestão do mandatário e tende a agraciá-lo com uma menção mais favorável.
Não é à toa, portanto, que o Aprova é normalmente bem maior do que o Ótimo + Bom. No gráfico que acompanha o texto observa-se que a aprovação da maneira de governar está sistematicamente acima da avaliação de governo, numa média de 14,6 pontos de percentagem.
Outro exemplo mais abrangente: na pesquisa CNI/Ibope de novembro-dezembro de 2013, sobre avaliação da gestão dos 27 governadores, a média do Aprova (48%) foi 14 pontos de percentagem maior do que a média de Ótimo e Bom (34%). Mas há casos em que o Aprova é quase o dobro do Ótimo e Bom (na Bahia, por exemplo).
Na mesma pesquisa CNI/Ibope, a avaliação da administração da presidente Dilma Rousseff, vista pelos eleitores de cada um dos 27 estados foi, na média, de 56% de Aprova contra 43% de Ótimo e Bom, isto é, 13 pontos de percentagem de diferença.
Alguns institutos, com o intento de clarear a dubiedade da subcategoria Regular, tratam de espremer o entrevistado para que ele clarifique melhor sua posição, chegando ao requinte de desmembrar o Regular em “regular positivo” e “regular negativo”. Um refinamento que chega a ser desproposital. Polui o questionário, confunde o entrevistado e não agrega informação relevante.
O intuito do pesquisador ao dicotomizar o Regular deve ser o de identificar o Regular Positivo como sendo um sentimento mais próximo de Bom e o Regular Negativo como sendo uma proxy de Ruim.
Força o respondente a posicionar-se numa escala de valores que por si só já é indefinida. Fica difícil para ele identificar naquele espectro se o Regular dele, isto é, seu “mais ou menos”, é “mais para mais ou mais para menos”, se ele se situa no segmento da escala que pende mais para o positivo ou mais para o negativo.
Muito melhor é fazer um cruzamento entre o aprova/desaprova e o regular. Em outras palavras, os institutos realizam uma exegese no interior das respostas “regulares” e mensuram o quanto de mais e de menos tem no “mais ou menos” (quanto de Aprova e Desaprova tem no Regular). A tabela do Ibope, abaixo, colocada aqui à guisa de exemplo, é esclarecedora dessa metodologia.
A pesquisa do Ibope em São Paulo detectou que Dilma tinha 38% de Regular. Pelo método atual, usado pelos institutos brasileiros, de considerar apenas o Ótimo e Bom como “aprovação da gestão” (ou popularidade, ou avaliação positiva) o Regular é descartado, assim como o Ruim e o Péssimo.
Tudo bem, é procedimento impróprio, mas já está popularizado na mídia. Atente-se, contudo, para o Regular. Descartando-o, a pesquisa o está distribuindo proporcionalmente entre (O + B) e (R + P). Quer dizer, os 38% de Regular de Dilma seriam repartidos, de forma arbitrária, na seguinte proporção: 22,1 pontos (58,2%) para (O + B) e 15,9 pontos (41,8%) para (R + P).
A pesquisa do Ibope em São Paulo detectou que Dilma tinha 38% de Regular. Pelo método atual, usado pelos institutos brasileiros, de considerar apenas o Ótimo e Bom como “aprovação da gestão” (ou popularidade, ou avaliação positiva) o Regular é descartado, assim como o Ruim e o Péssimo.
Tudo bem, é impróprio, mas já está popularizado na mídia. Atente-se, contudo, para o Regular. Descartando-o, a pesquisa o está distribuindo proporcionalmente entre (O + B) e (R + P). Quer dizer, os 38% de Regular de Dilma seriam repartidos, de forma arbitrária, na seguinte proporção: 22,1 pontos (58,2%) para (O + B) e 15,9 pontos (41,8%) para (R + P).
Em outros termos, uma medida mais completa de aprovação ou popularidade não poderia deixar de fora essa distribuição interna. Ainda assim, veja-se como o procedimento é arbitrário e colide com o cruzamento “real”, mostrado na tabela com os dados de São Paulo.
Note-se a diferença no cruzamento da tabela: 34% dos 38% de Regular (12,9%) vão para o Aprova (proxy de O + B), 53% dos 38% (20,1%) vão para o Desaprova (proxy de R + P) e 14% de 38% (5,3%) vão para (NS + NR). As proporções do Regular que se distribuem entre Aprova e Desaprova são bem diferentes nos dois casos.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.