
Maurício Costa Romão
Tornou-se praxe entre os institutos de pesquisa usar apenas o percentual das subcategorias de “ótimo e bom” para aferir desempenho de governantes ou, alternativamente, sua popularidade*.
A tabela que acompanha o texto reúne as últimas cinco pesquisas nacionais que captaram informações sobre a avaliação da gestão de Dilma Rousseff. Os levantamentos foram realizados em agosto e setembro, depois dos tumultos reinvidicatórios do meio do ano, e estão colocados em ordem cronológica dos respectivos trabalhos de campo.
Aqui não há muito rigor quanto ao requisito de que as pesquisas tenham sido geradas a partir de uma mesma fonte. Elas podem provir de institutos diferentes, com suas metodologias distintas, não importa. A ideia é simplesmente colocá-las em sequência para possível visualização de tendência.
Sabe-se que a presidente amargou seus piores índices de popularidade nos meses dos protestos, após os quais recuperou cerca de seis ou sete pontos no início de agosto e, desde então, não consegue avançar além do patamar médio de 37%, conforme atestam os números das pesquisas listadas na tabela, onde a maior distância entre um resultado e outro difere de apenas três pontos percentuais.
Vendo-se as pesquisas assim, em seqüência, percebe-se que a trajetória dos números não reflete o que as manchetes da mídia estamparam logo após a divulgação dos resultados do levantamento da CNI/Ibope (“avaliação positiva de Dilma volta a subir”, “Dilma se recupera e abre 22 pontos sobre Marina”, “Popularidade de Dilma aumenta”, etc.).
Tais manchetes espelham o desempenho da presidente em comparativos com o mês de julho, quando foi feita a pesquisa anterior do Ibope. Porém, no conjunto das pesquisas, nos meses de agosto e setembro, não houve nenhum aumento na avaliação positiva da presidente. Sua popularidade permaneceu estacionada em 37%.
Mesmo no Nordeste, onde Dilma sempre exibiu altíssimos índices positivos, a trajetória das declarações de apoio ao seu governo, no histórico pós-manifestações, apresenta uma incrível constância, conforme se depreende da tabela abaixo:
Baseado na evidência empírica de eleições presidenciais pretéritas, o cientista político Alberto Carlos Almeida concluiu que em situação de reeleição o incumbente converte um mínimo de 80% da soma de manifestações de ótimo e bom em votos.
Tomando esse indicative como diretriz, se a eleição fosse hoje, então, a presidente teria um patamar mínimo de votos de cerca de 30%. Há de se convir que esse threshold é muito baixo e reforça a possibilidade de ocorrência de segundo turno, que é tudo que os petistas não querem.
A constância dos números resulta inconveniente para as hostes governamentais, de fato, mas Dilma tem três fatores conspirando a seu favor: o exercício da incumbência, o tempo até as eleições, e a incapacidade momentânea dos adversários ocuparem maiores espaços na preferência do eleitorado.
—————————————————————-
Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br
*Embora simples e intuitivo esse procedimento pode, eventualmente, acarretar resultados distorcidos, por descartar informações relativas às demais subcategorias (“regular” e “ruim e péssimo”). Vide “Avaliar administrações de governantes pelos percentuais de ótimo e bom não é uma boa”, publicado no blog do autor.