PESQUISAS DO IBOPE PARA PRESIDENTE: NADA A ESTRANHAR

 
 
 
 

Imagem publicada no Blog do Magno Martins

Por Maurício Costa Romão

mauricio-romao@uol.com.br

*T.A. = tamanho da amostra. Elaboração do autor com base nos relatórios de junho, do Ibope. As margens de erro da última coluna foram calculadas pelo autor.

A mais recente pesquisa nacional do Ibope para Presidente, realizada entre 27 e 30 de junho próximo passado, confirmou as previsões de empate técnico entre José Serra e Dilma Rousseff feitas na mesma época pelo Datafolha (30 de junho e 1º de julho).  Este último havia detectado 39% de intenções de voto para Serra contra 38% para Dilma, enquanto o Ibope registrou 39% a 39%.

O que causou estranheza a alguns políticos, que opinaram nesse sentido pela mídia, foi algumas mudanças bruscas havidas na pesquisa do Ibope no que diz respeito aos resultados por grandes regiões. O argumento foi de que em um pouco mais de uma semana de diferença temporal entre as duas pesquisas do Instituto (18-21 e 27-30 de junho) os números mudaram completamente nas regiões Norte/Centro-Oeste e Sudeste.

A estranheza, que parece fazer sentido à primeira vista, não tem razão de ser, já que se trata de um aspecto técnico que pode estar influenciando esses resultados.

A margem de erro das duas pesquisas nacionais do Ibope (2002 questionários cada uma, aplicados em 140 municípios) é de 2% para mais ou para menos. Essa margem de erro é válida somente para os resultados da pesquisa como um todo. Qualquer desagregação ou cruzamento que se faça, utilizado dados que são partes (subconjuntos) da amostra total, já não se pode empregar a mesma margem de erro de 2%.

Registre-se, em particular, que as margens de erro dos subconjuntos (regiões, no caso em apreço) são sempre maiores que a margem de erro do total da amostra (por causa da conhecida relação inversa entre tamanho da amostra e margem de erro), o que pode ser visto na ultima coluna da Tabela que acompanha o texto.

No geral, os veículos de informação onde as pesquisas são divulgadas não fazem menção ao tamanho da amostra e aos erros amostrais em cada uma das regiões. É compreensível, pois se trata de detalhe técnico que pode tornar o texto jornalístico um tanto árido e de difícil assimilação pelo grande público. O pecado da omissão é deliberadamente cometido como compensação a uma maior leveza do texto.

Nos relatórios completos dos institutos, todavia, algumas informações não divulgadas na mídia são disponibilizadas, tais como o tamanho da amostra em cada região (oitava coluna da Tabela).

Normalmente, nesses relatórios, não aparecem os erros amostrais associados aos tamanhos de cada amostra (a última coluna da Tabela). Mas estes podem ser facilmente calculados (ainda que em alguns casos de forma aproximada) pelas fórmulas-padrão da literatura especializada.

Veja-se o caso que mais chamou a atenção, o da região Norte/Centro-Oeste. Na pesquisa de 18-21 de junho Dilma tinha 40% de intenção de votos contra 34% de Serra. Já no levantamento de 27-30, a situação se inverteu e Serra passou a liderar com 43% contra 35%.

Sem informações adicionais, o leitor é induzido a imputar o erro de 2% da pesquisa global para aquela região e inferir que, naquele pouco espaço de tempo, houve uma mudança efetiva de preferências dos eleitores daquela região por José Serra, já que os resultados estariam fora da margem de erro de 2%.

Não é bem assim. A margem de erro correta para um tamanho da amostra de tão somente 280 questionários aplicados naquela região é de aproximadamente 5,9% (o que faz variar a amplitude das intenções de voto de cada candidato em 11,8 pontos de percentagem). Então, na primeira pesquisa, as intenções de voto de Dilma (40%) poderiam variar de 34,1% a 45,9% e as de Serra (34%) de 28,1% a 39,9%.

Ou seja, na verdade há empate técnico, em termos estatísticos, pois considerando a margem de erro de 5,9%, seus respectivos campos de variabilidade de intenção de votos se superpõem (overlap) em determinados pontos.

Na segunda pesquisa, embora tenha havido inversão de posições, o mesmo empate técnico se registra para aquela margem de erro de 5,9%. Então, em termos de rigor estatístico, não se pode saber quem de fato está à frente naquela região. Daí porque o próprio Ibope em seus comentários no site relativos à última pesquisa, como que antevendo alguma controvérsia em torno dos resultados daquela região, assim se posicionou:

“Entre os eleitores da região Norte/Centro Oeste, Dilma e Serra ora estão empatados, ora se alternam na liderança. Isto pode ser decorrência de uma oscilação maior na amostra desta região devido ao seu tamanho ou a uma própria indefinição dos eleitores. Nesta rodada, Serra passa a frente com 43% contra 35% de Dilma”.

Em síntese, há que se ter muita cautela nas interpretações dos dados das pesquisas quando desagregações são efetuadas. O que parece ser, muitas vezes não é!

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