PESQUISAS DEMAIS E DE MENOS

Marcos Coimbra

Blog do Noblat, 01/07/2012

Nas democracias avançadas, quando se fala em pesquisa, subentende-se “de opinião pública”. São tão habituais que é desnecessário explicá-las. No Brasil, acontece um fenômeno diferente. A palavra pesquisa está fortemente ligada ao contexto político-eleitoral. Ela se confunde com a ideia de “intenção de voto”.

Nosso sistema político usa muito parcimoniosamente as pesquisas de opinião pública. Temos, por exemplo, a cada semestre, não mais que três ou quatro pesquisas – destinadas à divulgação – de avaliação
do governo federal e de aspectos específicos da realidade nacional.

É claro que existem outras, feitas para consumo interno – de monitoramento de opiniões e sentimentos ou para subsidiar a política de comunicação do governo. Também acontecem pesquisas para identificar
modos de utilização e níveis de satisfação com políticas particulares. São raramente publicadas.

Algo semelhante ocorre no plano estadual e municipal. Governos estaduais e prefeituras mandam fazer pesquisas análogas às que a União contrata – sempre de uso restrito.

A população só tem acesso, portanto, às poucas que a imprensa e algumas entidades – em especial as organizações patronais – mandam fazer.

É menos que o padrão internacional.

Até os maiores grupos de comunicação não consideram – pelo que parece – necessário saber o que pensa a opinião pública. Se aprova ou desaprova medidas tomadas pelos governos, se concorda ou discorda com propostas em discussão, se faz ou deixa de fazer alguma coisa.

Salvo exceções – muitas de relevância menor (“Qual o time de futebol com mais torcedores?”) – a imprensa realiza seu trabalho sem dar importância às pesquisas de opinião.

Talvez porque seus dirigentes estejam convencidos de que sabem o que a população pensa e se sintam seus intérpretes fiéis – presunção exagerada e quase nunca verdadeira, como vemos a cada vez que ela se manifesta diretamente, como nas eleições.

Por essa e outras razões, as pessoas comuns se acostumaram a associar pesquisa e eleição. O que é natural: afinal, passam meses sem nada ver além dos resultados de esporádicas pesquisas de avaliação do governo federal. Até a véspera das eleições.

Aí, são inundadas por números. Nos três meses que antecedem o dia de votar, saem pesquisas a torto e a direito. Na reta final, são tantas que até os mais interessados se confundem.

Agora mesmo tivemos um exemplo disso. Sem que tenhamos chegado à fase em que pululam, saíram duas, do mesmo instituto, sobre a eleição de São Paulo, com intervalo de apenas dez dias.

Ambas foram feitas pelo Datafolha, a primeira entre os dias 13 e 15 e a outra entre 25 e 26 de junho. Qual a razão de tanta pressa em realizar a nova?

O único motivo seria checar o efeito da foto em que Lula e Paulo Maluf aparecem juntos, na ocasião em que a aliança do PT com o PP foi sacramentada.

Se não fosse a imagem dos dois se cumprimentando ao lado de Fernando Haddad, seria algo tão banal que nem justificaria a repetição da pesquisa (para lembrar: o PP apóia Eduardo Paes (PMDB) e Marcio Lacerda (PSB), no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, sem que ninguém tenha dado a isso qualquer destaque).

A pesquisa mostrou o óbvio: que nada mudou em relação à anterior. Mas foi apresentada como se trouxesse “fatos novos”, politicamente significativos.

A começar pelo resultado mais destacado: que os simpatizantes do PT não gostaram de ver Lula junto com Maluf. Será que alguém – por exemplo, o próprio ex-presidente – achava que ficariam felizes?

A pergunta que interessa é outra: os eleitores do PT e os admiradores de Lula decidiram-se a não votar em Haddad por causa da foto? São muitos os votos certamente perdidos?

A pesquisa não diz isso – e nem poderia, à distância em que estamos do pleito e frente a um eleitorado ainda “frio”. Mas foi tratada jornalisticamente como se o dissesse.

Às vezes, pesquisa demais termina sendo pior que de menos.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi de Pesquisas

 

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