Por Maurício Costa Romão
O objetivo deste texto é chamar a atenção para um aspecto metodológico importante sobre a confecção e divulgação de pesquisas eleitorais. Trata-se de uma análise estritamente técnica, e nem de longe pretende questionar resultados de pesquisas.
Se existe uma coisa de consenso em pesquisa eleitoral é a que diz respeito à data de aplicação dos questionários no campo: as datas mais recentes são as mais relevantes, porque captam os últimos sentimentos do eleitor. Portanto, a atualidade das informações é crucial. Uma pesquisa divulgada hoje pode estar defasada, dependendo de quando foi a campo.
O último levantamento do Vox Populi para Governador e Senador, em Pernambuco, foi divulgado inicialmente pelo Instituto na quarta-feira, dia18/08, e desde então – anteontem, ontem e hoje – houve a repercussão na mídia.
Passa despercebida, todavia, nas matérias e análises que abordam os números dessa pesquisa, que as entrevistas foram realizadas entre os dias 7 e 10/08, quer dizer, a primeira divulgação da pesquisa se deu oito dias após o encerramento do campo.
Por outro lado, as pesquisas do DiarioData e do Datafolha, que também prospectaram, contemporaneamente, intenções de voto para Governador e Senador, em Pernambuco, foram divulgadas antes da do Vox Populi, embora seus trabalhos de campo tivessem sido iniciados e encerrados depois, estando, portanto, mais atualizadas (vide datas na tabela que acompanha o texto).
À guisa de ilustração do argumento do texto, tome-se o exemplo da corrida senatorial. A seqüência temporal das pesquisas mostrada na tabela obedece à cronologia dos trabalhos de campo, como é tecnicamente correto fazê-lo, e não à da data da divulgação. Mesmo havendo overlapping parcial de datas de campo, como de fato acontece com as três pesquisas, deve-se considerar como mais atualizada a que terminou o trabalho de campo por último.
Uma questão para a qual cabe atentar com respeito à tabela do texto: as pesquisas listadas não são comparáveis entre si. Cada instituto utiliza metodologia distinta, um do outro. E qual é a implicação disso? As eventuais variações havidas nas intenções de voto dos candidatos, de uma pesquisa para outra, podem não ter sido derivadas de mudanças nas preferências da população, e sim decorrente da metodologia empregada ou devidas ao tipo de coleta de informações.
Mas, relevando tratar-se de institutos diferentes, com suas metodologias distintas, o fato é que a evolução dos números, postados consoantes a data seqüencial do trabalho de campo, dá margem a leitura diversa da que seria feita, numa outra ordem cronológica.
Há seis modos distintos de seqüenciar cronologicamente as pesquisas nessa tabela, lembrando as permutações simples de análise combinatória. Cada uma delas vai suscitar uma leitura dos números diferente.
Por exemplo, Humberto crescendo sistematicamente: Datafolha, DiarioData, Vox Populi; Humberto caindo sistematicamente: seqüencia da tabela do texto; Maciel crescendo sistematicamente: seqüência da tabela do texto; Maciel caindo sistematicamente: Datafolha, DiarioData, Vox Populi; Armando crescendo sistematicamente: DiarioData, Datafolha, Vox Populi; Armando caindo sistematicamente: Vox Populi, Datafolha, DiarioData; etc.
Mas, na cronologia das pesquisas eleitorais, não cabe fazer combinações com permuta de elementos: o levantamento mais atual é sempre e invariavelmente o que terminou o trabalho de campo por derradeiro.