
O gráfico que acompanha o texto mostra a evolução de intenções de voto para Presidente 2010, desde setembro do ano passado, oriunda de 51 pesquisas eleitorais realizadas pelos quatro grandes institutos do país: Datafolha (17 pesquisas), Ibope (17), Sensus (9) e Vox Populi (8). Apenas algumas datas do trabalho de campo dessas pesquisas aparecem no gráfico.
É conveniente dividir esse período de um ano de pesquisas em algumas fases relevantes do calendário eleitoral:
Fase 1: pesquisas de setembro 2009 a 31 de março, data da desincompatibilização;
Fase 2: pesquisas de abril a 30 de junho, data final para realizações de convenções partidárias;
Fase 3: pesquisas de julho a 16 de agosto, último dia antes da entrada da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão;
Fase 4: pesquisas de 17 de agosto até 30 de setembro, último dia da propaganda eleitoral gratuita;
Pode-se observar no gráfico que até meados do prazo final da desincompatibilização, último dia de março, as intenções de voto consignadas a José Serra eram sistematicamente maiores que às atribuídas a Dilma Rousseff.
Neste período, atribui-se à desvantagem da representante petista o fato de ainda não ter-se desincompatibilizado e entrado propriamente na pré-campanha e, principalmente, de não ser ainda conhecida como candidata do Presidente Lula, cujo governo e desempenho pessoal gozavam de grande aprovação. Sobre ela depositavam os petistas a expectativa de continuidade da era Lula.
José Serra, por seu turno, pré-candidato desde sempre, estava saindo do governo paulista desfilando altos índices de bom desempenho, ademais de sempre ser enaltecido como político preparado e competente. Sua candidatura encarnava as esperanças da oposição de retomar as rédeas do governo central.
Observa-se, no gráfico, que nesta fase 1, embora Serra estivesse à frente, já se delineia uma nítida tendência de crescimento das intenções de voto da postulante situacionista, enquanto que as que se referem a Serra situavam-se adstritas ao patamar de 30% a 40%, estabilizadas, gravitando no entorno de 35%.
Já no período de maio-junho, na fase 2, as intenções de voto de Dilma já começam a aparecer acima das de Serra na maioria das pesquisas. A linha de tendência das intenções de voto de Dilma continuava ascendente, enquanto a de Serra se mostrava praticamente horizontal, ainda na casa dos 35%.
A questão amplamente noticiada pela mídia, em junho, de violações de sigilo na Receita Federal não alterou o quadro da campanha e passou ao largo da performance da representante governamental.
As convenções partidárias de 30 de junho ratificam o grande arco de apoiamento partidário da candidata oficial e a oposição encontra dificuldades até mesmo na indicação do candidato à Vice-Presidente, gerando indas e vindas que trouxeram grande desgaste à postulação do PSDB.
A fase 3, que vai de julho até o início da propaganda eleitoral gratuita, se caracteriza pela continuidade da ascensão das intenções de voto de Dilma e pela queda sistemática das de Serra, cujo discurso não encontrava um eixo central para se contrapor à avalanche governista, comandada pela popularidade do Presidente Lula. Por outro lado, a candidatura de Marina Silva, vista como simpática para a maioria da população, não conseguia deslanchar desde os primórdios e patinava na média de 8% das intenções de voto.
Nessa fase 3, há um clima de grande otimismo nas hostes governistas e a cada pesquisa que sai, mais se confirma o favoritismo da situação. Já há, por parte de grande parcela do eleitorado, identificação de Dilma como candidata de Lula, preferida por ele para governar o país.
Começam desta época as especulações sobre a possibilidade de vitória de Dilma no primeiro turno, já que as pesquisas apontavam que a soma das intenções de voto de José Serra e Marina Silva era menor que o total consignado à petista. A esperança oposicionista passa, então, a depender da entrada em vigor do horário gratuito de rádio e televisão.
A fase 4, quando tem início o horário gratuito e vai até às vésperas da eleição, apenas consolida a posição de Dilma Rousseff nas pesquisas, abrindo grande diferença sobre seu principal opositor, que continua caindo progressivamente em termos de intenção de votos. As expectativas de uma vitória petista no primeiro turno são cada vez maiores.
A tão aguardada reviravolta para as hostes tucanas, que poderia advir do horário gratuito não aconteceu. Pelo contrário, acentuou-se a ausência de um discurso coerente da oposição psdbista, o que ficou claro com a colocação da figura de Lula no horário televisivo dedicado à coligação encabeçada pelo PSDB.
Mas antes do escândalo que resultou na saída da ministra Erenice Guerra do governo Lula, no dia 16 de setembro, foram realizadas 7 pesquisas naquele mês, até a data da exoneração da ex-auxiliar de Dilma: 3 do Datafolha, 2 do Ibope, 1 do Vox Populi e 1 do Sensus. No cômputo dessas pesquisas, a média das intenções de voto de Dilma foi de 50,6% (a maior percentagem foi de 51% e a menor foi 50%).
Isso significa que o potencial de crescimento de Dilma já se havia esgotado antes mesmo do escândalo Erenice. Mas como as intenções de voto de Serra (média de 26,3%, do início de setembro deste ano até a saída de Erenice) e Marina (média de 9,7%, no mesmo lapso de tempo) não evoluíam positivamente, a distância de Dilma para as candidaturas opostas continuava sinalizando desfecho no primeiro turno.
Com a grande repercussão do escândalo, principalmente, mais algumas controvérsias sobre questões religiosas, os números das pesquisas passaram a apontar para os seguintes movimentos: a paulatina e progressiva ascensão das intenções de voto de Marina Silva e a gradual queda das consignadas a Dilma Rousseff, bem como um discreto crescimento das conferidas a José Serra, achatando a diferença entre os dois pólos.
Desde a saída de Erenice até o dia 2 de outubro foram realizadas 9 pesquisas: 4 do Datafolha, 3 do Ibope, 1 do Sensus e 1 do Vox Populi. A média de intenções de voto de Dilma caiu para 48,3%, a de Marina teve um crescimento vigoroso e evoluiu para 13,3%, enquanto a de Serra subiu ligeiramente e passou para 27,6%.
As duas últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope, ambas com trabalho de campo nos dias 01 e 02 de outubro, às vésperas da eleição, apresentaram números rigorosamente iguais: Dilma com 47%, Serra com 29%, e Marina com 16%, configurando empate técnico entre os votos da petista e a soma dos dois candidatos (incluindo 1% para os demais). Acontecia o pior para a situação: surpreendente crescimento de Marina, combinado com discreta recuperação de Serra e queda de Dilma. Ou seja, a tão decantada vitória petista no primeiro turno já não parecia assim tão certa.
Em votos válidos, as duas pesquisas mencionadas cravavam, na média, 50,5% para Dilma e 49,5% para os outros candidatos. O eleitorado estava dividido meio a meio. Tudo era incerteza para o dia 03 de outubro…