PESQUISA IPMN: RECIFENSE DIVIDIDO ENTRE DILMA E EDUARDO

 Maurício Costa Romão

O Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), em pesquisa encomendada pelo portal LeiaJá, e em parceria com Jornal do Commercio, no bojo de uma consulta de opinião pública sobre os 100 dias do governo Geraldo Júlio no Recife, auscultou também a população da capital sobre suas intenções de voto para presidente da República, nas eleições de 2014.

O levantamento, com trabalho de campo levado a efeito entre os dias 1 e 2 deste mês de abril, tem margem de erro de 3,5 pontos de percentagem, para mais ou para menos, nível de confiança de 95%, e aplicou 816 questionários.

O voto estimulado

A Tabela 1 desfila as intenções de voto dos possíveis candidatos a presidente da República.

Fonte: Elaboração própria – pesquisa IPMN

Nos dados constantes da Tabela 1, nesta primeira pesquisa eleitoral do IPMN em 2013 para presidente, a atual mandatária do país, Dilma Roussef, aparece com 36% de intenções de voto, ligeiramente à frente do governador Eduardo Campos, que pontuou 34%. Tal resultado se configura como empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa é de 3,5 pontos de percentagem, para mais ou para menos.

Bem distantes das pré-candidaturas líderes, aparecem Marina Silva e Aécio Neves, com 4% e 2%, respectivamente. Note-se que a soma dos percentuais de Eduardo, Marina e Aécio ultrapassa a do percentual de intenção de votos de Dilma, o que denota possibilidade de segundo turno no Recife, se a eleição fosse hoje e centrada apenas na capital.

É interessante registrar que na eleição de 2010 no Recife, Marina foi a segunda colocada, com 37% dos votos válidos, à frente de José Serra, que obteve 19% . Naquele pleito, Dilma Rousseff obteve 43% dos votos na capital.

Se for levada em consideração a última pesquisa Datafolha, de 20 e 21 de março do corrente, realizada a nível nacional, a presidente chegou a 58% de intenção de votos, Marina Silva alcançou 16%, Aécio Neves apareceu com 10% e Eduardo Campos atingiu 6%. Esses dados são citados aqui apenas à guisa de ilustração, já que os dois levantamentos são, obviamente, incomparáveis.

Os percentuais da Tabela 1 suscitam interpretações variadas, dependendo da ótica com que a leitura é feita. Para uns, os números de Eduardo mostram que, apesar de sua popularidade no âmbito local e do reconhecimento dos munícipes recifenses pelos feitos de seu governo, ele teria dificuldades na corrida presidencial, já que não consegue bater Dilma, possível adversária, sequer em seu próprio habitat.

Para outros, não obstante a intensa presença da presidente nos meios de comunicação, anúncios de medidas econômicas de grande alcance social, como a desoneração da cesta básica, sua vinda recente a Pernambuco, quando prometeu socorros financeiros para o combate à seca, etc., ainda assim, o governador mostrou força na capital, tendo preferências eleitorais para ascensão ao Planalto no mesmo patamar da presidente.

Veja-se, ainda, nas duas últimas linhas da Tabela, que quase um quarto do eleitorado recifense ainda está indeciso, ou vai votar em branco ou anular o voto.

De fato, quanto mais distante do pleito, mais os eleitores se mostram reticentes em manifestar preferência por este ou aquele candidato, optando por declarar que vai votar em branco, anular o voto ou, apenas, que não sabe em quem vai votar.

Na fase atual, as candidaturas ainda não estão declaradas oficialmente, os arcos de apoiamento não foram formados, as pré-campanhas não ganharam as ruas, as alianças proporcionais ainda não se formalizaram, etc., etc. Uma boa parte do eleitorado fica, então, guardando distância regulamentar do processo nessa etapa exploratória.

À medida que as fases de pré-campanha avançam e adentram na campanha propriamente dita, os eleitores passam a conhecer melhor os nomes postos em disputa, começam a se envolver mais, inclinam-se por determinadas candidaturas e, finalmente, fazem suas escolhas, diminuindo bastante os percentuais de votos brancos e nulos e de indecisos.  

A força de Lula

O IPMN aferiu também a possibilidade, que não pode ser descartada, de o ex-presidente Lula vir a ser o candidato do governo, no lugar de Dilma. Se assim fosse, Lula abriria uma frente de 24 pontos de percentagem de intenções de voto sobre o governador Eduardo Campos, no Recife, conforme registram os números da Tabela 2. Incidentalmente, Marina e Aécio mantêm os mesmos percentuais conquistados quando a candidata é Dilma.

Fonte: Elaboração própria – pesquisa IPMN

Nesta alternativa, caso o pleito se realizasse agora e ficasse adstrito apenas à capital pernambucana, Lula ganharia no primeiro turno. A figura emblemática do ex-presidente e as políticas de concessão de crédito e de transferência de renda do seu governo para as classes mais pobres respondem por essa performance distintiva que Lula costuma exibir em várias pesquisas nacionais e locais. Não surpreende, pois, ele pontuar mais que Eduardo Campos, no Recife.

Avaliação da Administração

Além da convencional intenção de votos, a pesquisa do IPMN procurou saber dos eleitores como eles viam as gestões administrativas do governador de Pernambuco e da presidente da República. A Tabela 3 retrata as manifestações dos munícipes recifenses sobre esse quesito.

Fonte: Elaboração própria – pesquisa IPMN

Fica claro na Tabela que ambos os dirigentes têm suas gestões altamente reconhecidas pela população da capital, mas as revelações de apreço explicitadas em relação ao trabalho que o governador vem fazendo são maiores que as da presidente (os números das últimas duas linhas da Tabela referem-se à soma dos conceitos excelente e bom, num extremo, e ruim e péssimo, noutro).

Para melhor compreensão e comparação dos números da Tabela 3 é conveniente considerar o indicador “Saldo de Aprovação da Administração” (SAA), que nada mais é do que o resultado líquido entre os conceitos de excelente e bom de um lado e os conceitos de ruim e péssimo de outro. Sob este ângulo, Eduardo abre uma vantagem de 13 pontos sobre Dilma, já que o governador pontuou 72% e a presidente 59%.

Na verdade, essa alta aprovação da gestão de Eduardo Campos não causa surpresa. Os sucessivos levantamentos IPMN no Recife, numa série que remonta a dezembro de 2011, vindo até este mês de abril do corrente ano, sempre detectaram números bem positivos para o governador, vistos pelo índice mencionado.

O Gráfico que acompanha o texto desfila 16 pesquisas IPMN nas quais se mensurou o SAA, no Recife. Vê-se que a evolução do indicador tem trajetória ascendente e com percentuais bem favoráveis, particularmente nos últimos seis levantamentos.

Fonte: elaboração própria, com base em pesquisas IPMN no Recife

Parte das avaliações mais baixas detectadas pelo SAA se concentrou durante o período em que o governador fez o anúncio de que o PSB teria candidatura própria a prefeito do Recife, causando grande insatisfação no reduto petista e em alguns setores da Frente Popular. Isso certamente levou alguns eleitores destas correntes a extravasar seu desagrado nos questionários das pesquisas.

Não há outra interpretação para o fenômeno registrado, posto que naquele período não ocorreu nenhum fato administrativo relevante de repercussão negativa para o governo do estado, nem que afetasse a imagem do governador. A oscilação do SAA para baixo foi fruto da temperatura política da ocasião.

 A turbulência político-eleitoral continuou no início da campanha propriamente dita e perdurou até meados de agosto. A partir daí a avaliação da gestão do governador nunca atingiu menos de 70% no SAA.

Ainda restam 18 meses para as eleições de 2014. As peças do xadrez da disputa presidencial estão apenas sendo despejadas sobre o tabuleiro político. Colocá-las nas respectivas casas é um processo que se vai arrumando ao poucos. Por enquanto, não há como fazer lances preditivos.

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br https://mauricioromao.blog.br.

 

 

 

 

 

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