
Em alguns cenários Mendonça Filho já ultrapassa ligeiramente João da Costa em intenção de votos; em relação à pesquisa IPMN de dezembro, o atual prefeito (1) perde pontos em todos os cenários; (2) a oposição avança e (3) cresce a avaliação negativa da gestão municipal. Sendo candidato, João Paulo lidera disparado.
Maurício Costa Romão
O Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), em parceria com o Jornal do Commercio e o portal LeiaJá, divulgou hoje os números da pesquisa de intenções de voto para prefeito do Recife, realizada entre os dias 16 e 17 deste mês de janeiro. O levantamento tem margem de erro de 3,5 pontos de percentagem, para mais ou para menos, um nível de confiança de 95%, e aplicou 816 questionários.
A Tabela 1 mostra quatro cenários de intenção de votos estimulada, elaborados pela pesquisa, em que o atual prefeito João da Costa aparece como candidato do PT. O IPMN também confeccionou outros panoramas aventando a possibilidade de o deputado João Paulo vir a ser o representante petista, substituindo João da Costa (vide Tabela 2, abaixo). A pergunta estimulada é aquela na qual se apresenta ao entrevistado uma relação de nomes dos candidatos (normalmente impressa num disco de papel-cartolina), em ordem aleatória, para que ele escolha um nome de sua preferência.
Nos quatro cenários mostrados na Tabela 1 nota-se uma nítida polarização entre o prefeito e o pré-candidato oposicionista, deputado federal Mendonça Filho. Nos três cenários em que essas pré-candidaturas líderes se confrontam há empate técnico, com o deputado liderando em dois deles e o prefeito em um, sempre com uma pequena margem de diferença de apenas um ponto de percentagem.
No levantamento, a votação do atual mandatário recifense varia de 17% a 19% e a do ex-governador oscila de 16% a 20%, nos cenários em que os dois postulantes estão presentes (a margem de erro é de 3,5 pontos de percentagem, para mais ou para menos)
Nesses cenários, sobressai-se o fato de que João da Costa e Mendonça Filho terem intenções de voto bem acima das conferidas a um bloco intermediário de pretendentes à PCR, formado por Raul Henry, Raul Jungmann e Daniel Coelho.
Prevalecendo os números listados na Tabela 1, se a eleição fosse hoje, haveria segundo turno entre o atual prefeito e o ex-governador Mendonça Filho nos cenários I, III e IV, pois nenhum dos dois teria alcançado 50% mais um dos votos válidos. No cenário II, em que o nome do ex-governador não aparece no disco mostrado ao entrevistado, o segundo turno de votação dar-se-ia entre João da Costa e um dos três postulantes do bloco intermediário, todos empatados tecnicamente, com ligeira vantagem numérica para Raul Jungmann.
Chama à atenção, ainda, na Tabela 1, o enorme contingente de eleitores que ainda não se decidiu por nenhuma das pré-candidaturas aventadas. Esse contingente está englobado na categoria de votos brancos, nulos, não sabe, não respondeu. Na média dos cenários da Tabela em apreço, esse conjunto representa 45% dos eleitores, o que é compreensível em virtude da distância de tempo que ainda falta para a realização do pleito. Tal alheamento eleitoral está espelhado no fato de que, no momento presente, 74% dos eleitores pesquisados pelo IPMN ainda estão indiferentes, não estão interessados, ou se interessam pouco pelo pleito do próximo ano, no Recife.
De fato, quanto mais distante do pleito, mais os eleitores se mostram reticentes em manifestar preferência por este ou aquele candidato, optando por declarar que vai votar em branco, anular o voto ou, simplesmente, que não sabe em quem vai votar. Na fase atual, as candidaturas ainda não estão consolidadas, os arcos de apoiamento não foram formados, as pré-campanhas não ganharam as ruas, etc., etc. À medida que o processo eleitoral vai avançando, os eleitores vão conhecendo melhor os nomes postos em disputa, começam a se envolver mais no processo político-eleitoral, passam a inclinar-se por determinadas candidaturas e, finalmente, fazem suas escolhas, diminuindo drasticamente os percentuais de votos brancos e nulos e de indecisos.
João Paulo como candidato do PT
Quando o deputado federal João Paulo entra no lugar de João da Costa como representante do PT ocorre uma mudança radical nos números da pesquisa IPMN. O ex-prefeito lidera com folga nos dois cenários da Tabela 2, sendo que naquele em que o ex-governador Mendonça Filho não está (Cenário II), a soma das intenções de voto de todos os candidatos da oposição não chegar sequer à metade das conferidas a João Paulo. Os percentuais de intenção de votos do petista, nas duas simulações, foram de 43% e de 46%, respectivamente.

Configurados os cenários postos na Tabela 2, se a eleição fosse realizada hoje, ela seria definida no primeiro turno, com o ex-prefeito tendo entre 58,9% e 67,6% dos votos válidos nos cenários I e II, respectivamente.
Como se vê, a sombra do ex-prefeito continua rondando a figura de João da Costa, desta feita exibindo substantivo peso eleitoral, fustigando com números o esforço de viabilização política do chefe do executivo.
O voto espontâneo
Quando o eleitor é instado a manifestar-se espontaneamente sobre em quem votaria para prefeito, se a eleição fosse hoje, o nome que se destaca é o do ex-prefeito João Paulo, com 32% de intenção de votos, seguido por João da Costa, Jarbas Vasconcelos, Mendonça Filho e Humberto Costa, nesta ordem, todos neste bloco, entretanto, empatados tecnicamente. Os números dessa modalidade podem ser vislumbrados na Tabela 3.

Nesse caso, da manifestação espontânea de voto, o respondente é instado a dar sua opinião sobre em quem ele votaria, caso a eleição fosse hoje, mas sem que o entrevistador faça uso de qualquer mensagem gestual ou verbal que lembre a figura ou o nome de alguém ou de algum candidato. Quanto mais o nome de determinada pessoa é lembrado, espontaneamente, mais esse nome é familiar, mais cristalizado está em sua memória e mais a imagem positiva da pessoa é apreendida pelo eleitor.
Os sentimentos do eleitor
Além da convencional intenção de votos, a referida pesquisa do IPMN capta, também, alguns sentimentos dos eleitores quanto ao ambiente político-eleitoral que permeia a corrida para a prefeitura do Recife. Dentre essas impressões mentais dos eleitores, foram selecionadas, neste texto, para breves comentários, a avaliação da presente administração, as manifestações de admiração nutridas em relação ao prefeito e, por último, as revelações explicitadas de apreço ou aprovação. Nestes três itens mencionados, o prefeito João da Costa não está nada bem.
1. Avaliação da Administração
Com efeito, a avaliação de sua administração só é considerada ótima e boa por apenas 17% dos eleitores, enquanto, apenas à guisa de comparação, o percentual do governo Eduardo Campos nesses itens chega a 70%, conforme se pode observar na Tabela 4.

Chama à atenção, também, a avaliação negativa da atual gestão municipal à frente da cidade: 52% dos eleitores a consideram ruim ou péssima, contra apenas 6% que são atribuídos à administração estadual (os números entre parênteses no corpo da Tabela referem-se à soma dos conceitos ótimo e bom, num extremo, e ruim e péssimo, noutro).
1. Merecimento de um novo mandato e admiração
Quando o eleitor é estimulado a externar seus sentimentos quanto à perspectiva de João da Costa vir a ser reeleito, ele o faz de forma peremptoriamente contrária a essa possibilidade: 75% disseram que o prefeito não merece ser reeleito e apenas 20% afirmaram que ele merece (Tabela 5).

Note-se que esse percentual de 20% de eleitores que gostariam de premiar o prefeito com a reeleição está consistente com o quantum que faz avaliação positiva de sua administração (Tabela 4). Da mesma forma, é natural se esperar que os eleitores que consideram a atual administração ruim ou péssima (52%) rejeitem um segundo mandato para o prefeito. Como o percentual dos que não querem João da Costa comandando de novo a prefeitura é de 75%, é razoável admitir que os eleitores que conferem avaliação apenas “regular” ao prefeito (28%) também não desejam, em sua grande maioria, dar-lhe nova chance executiva.
Quando se inquire os eleitores sobre sua faculdade de sentir admiração pelo atual gestor do município recifense, os números são contundentemente desvantajosos para João da Costa: 77% dizem que não o admiram. Depreende-se deste quesito que a imagem do prefeito, envolvendo atributos pessoais, políticos e administrativos, está muito desgastada junto à população.
É oportuno registrar, ainda, que se nota, no conjunto dos eleitores recifenses, certa sensação de descrença, de desânimo, de decepção com a vida que levam, tanto assim é que apenas 17% responderam que as suas vidas melhoram muito nos últimos anos. Por outro lado, 82% disseram que a vida piorou, melhorou pouco, ou continua do mesmo jeito e apenas 1% não respondeu ou não soube responder à questão formulada.
Comparativos com a pesquisa IPMN de dezembro 2011
O Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau divulgou no portal LeiaJá, no dia 20/12, números da pesquisa de intenções de voto para prefeito do Recife levada a efeito entre os dias 13 e 14 do mês de dezembro passado. O levantamento teve as mesmas concepções estatísticas e características metodológicas deste de agora, de janeiro.
A Tabela 6 mostra os cenários em que o atual prefeito aparece como pré-candidato pelo PT nas duas pesquisas, a de dezembro e a de janeiro. Nota-se, de pronto, que João da Costa perde pontos de intenção de votos em todos os quatro cenários, entre os dois meses mencionados, sendo que nos cenários I e IV o faz fora da margem de erro de 3,5 pontos de percentagem. Isso significa possível perda real de preferência do eleitorado nos ditos cenários.

Independente do cenário aventado, é de se destacar a ascensão em intenção de votos de todos os postulantes da oposição, situados no bloco intermediário de preferências dos eleitores, com claro realce para Raul Jungmann. Como houve uma razoável queda de manifestações de intenção de votos da categoria de votos brancos, nulos, não sabe e não respondeu, de um mês para o outro, pode-se considerar que, de dezembro para janeiro, o conjunto da oposição se beneficiou das intenções de votos dos eleitores que saíram dessa categoria e escolheram as pré-candidaturas lançadas. A oposição também angariou os frutos da subtração de votos de João da Costa. Em outras palavras, há fortes indícios de que a oposição avançou e a candidatura situacionista regrediu, na preferência do eleitorado recifense.
Note-se, ainda, que a grande exposição na mídia do ministro Fernando Bezerra Coelho nas últimas semanas não chegou a alterar substancialmente suas intenções de voto. Tanto assim é que entre os dois meses sob análise suas intenções de voto cresceram apenas dois pontos de percentagem, dentro da margem de erro de 3,5 pontos.
Finalmente, nos quesitos de avaliação da administração, merecimento a um segundo mandato e admiração, o prefeito João da Costa piorou sua situação de dezembro para janeiro. A avaliação negativa de seu governo subiu de 45% para 52% (conceitos ruim e péssimos), enquanto que a positiva (conceitos ótimo e bom), decresceu de 21% para 17%. Essas manifestações dos eleitores estão fora da margem de erro.
Considerações finais
Desde 2010, em especial a partir do paulatino e progressivo esgarçando das relações do prefeito João da Costa com o seu antecessor, processo que interferiu no andamento das ações e atividades da prefeitura, o atual mandatário municipal vem experimentando níveis crescentes de insatisfação da comunidade com a gestão da cidade.
Ainda assim, o mosaico político que sustentou a ascensão do prefeito em 2008 se vinha mantendo intacto, não obstante, vez por outra, ecoasse nos bastidores da Frente Popular certa inquietude diante da visível decomposição gerencial da cidade, reverberada urbi et orbi.
Recentemente, entretanto, aos problemas pessoais e administrativos com que se vinha defrontando o alcaide, somou-se, ainda, um forte ingrediente político: as defecções políticas do arco situacionista materializadas em lançamentos de pré-candidaturas próprias pelos partidos aliados e exteriorização de acirradas críticas de seus próprios pares situacionistas. Sintoma evidente do enfraquecimento político do prefeito. Estivesse ele forte e com perspectivas eleitorais favoráveis, nenhum partido de suas hostes arredaria o pé do seu entorno e nenhum integrante de seu grupo de apoiamento ousaria manifestar-se contrário às suas pretensões de reeleger-se.
Ademais de enfrentar problemas de saúde, felizmente superados, o inferno astral vivenciado pelo chefe do executivo, que atingiu seu ápice durante o período de chuvas do ano passado, parece não ter fim. Os níveis de descontentamento com a administração da cidade nunca foram tão elevados. As pesquisas do IPMN mostram isso de forma peremptória.
Mesmo diante de tanta adversidade, o prefeito tem demonstrado admirável perseverança e capacidade de trabalho, buscando imprimir agenda administrativa positiva. Também deflagrou processo mais intenso de interlocução política, com o intuito de superar seu isolamento e viabilizar-se como candidato único da situação.
O hercúleo esforço de soerguimento político-administrativo ainda está em curso mas, a julgar pelas duas pesquisas eleitorais sucessivas do IPMN, a estratégia de recuperação da imagem do prefeito junto à população não chegou a surtir efeito, pelo menos até o presente instante. Nem tampouco conseguiu sensibilizar boa parte dos membros do seu próprio grupo político, haja vista as constantes manifestações de desagrado que se veiculam diariamente nos meios de comunicação.
Claro que, neste momento, a quase nove meses do pleito, ainda na fase de pré-candidaturas, com poucas pesquisas realizadas, não há elementos que possam auxiliar na formulação de prognósticos abalizados. Mais à frente, já adentrando no clima eleitoral propriamente dito, com o inevitável afunilamento de candidaturas e, principalmente, com novos e sucessivos levantamentos, aí sim, os sentimentos do eleitor somados aos indicativos de intenção de votos poderão configurar determinadas tendências bem definidas.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.