OLHO GORDO NOS PARLAMENTOS

Claudio Weber Abramo, Folha de S.Paulo, 28/09/2010

SEM CONSIDERAR políticos que, nas últimas horas, tenham morrido ou renunciado a candidaturas, apresentam-se às eleições deste ano 21.752 pessoas (o número pode diminuir um pouco por conta de indeferimentos definitivos de candidaturas).

Dessas, um total de 5.617 candidatou-se em 2006, entre as quais se encontra a grande maioria dos 1.626 deputados federais, senadores e deputados estaduais (e distritais do DF) eleitos naquele ano e que buscam recondução ao cargo ou almejam outros postos Ainda entre os mais de 20 mil candidatos estão 7.142 que concorreram nas eleições de 2008, incluindo-se aí nada menos de 288 dos 715 vereadores que foram eleitos para Câmaras Municipais de capitais naquele ano. Sabe-se lá quantos desses ex-candidatos em 2008 são hoje detentores de mandatos municipais em outras cidades.

O contingente de atuais vereadores de capitais (288) que se candidata neste ano forma um contingente de 40,3% dos plenários dessas capitais.

É evidente que os atrativos de um mandato estadual em muito superam a responsabilidade de perseguir o cumprimento de promessas e compromissos de campanha alardeados em 2008.
É interessante observar que o número de candidatos às eleições gerais tem apresentado aumento considerável. Em 2002, o número total de postulantes foi de 16.800 e, em 2006, de 18.112.

Assim, o crescimento de 2002 a 2006 foi de cerca de 8% e o de 2006 a 2010, de 20%.
Como a população não tem crescido nessas medidas e como os postos disponíveis têm permanecido basicamente estáticos, isso indica que mandatos eletivos constituem isca crescentemente ambicionada por brasileiros.

Mentes otimistas poderiam talvez derivar daí conclusões a respeito do aumento da consciência cívica dos brasileiros: mais e mais pessoas querem “contribuir para a coletividade”. Já uma olhadela nos hábitos políticos do país e uma reflexão, ainda que superficial, sobre a virtual irrelevância do poder Legislativo, talvez justifiquem outro tipo de conclusão.

Entre outras coisas, lembre-se o eventual leitor de que nada menos de 40% dos atuais deputados federais e senadores já foram condenados na Justiça por crimes contra a administração pública, já sofreram punições por Tribunais de Contas ou tiveram julgamentos desfavoráveis de certa gravidade pela Justiça Eleitoral (por compra de votos, por exemplo).

Em alguns Estados, a porcentagem de integrantes das Assembleias Legislativas que se encontra nessas condições supera os 50% (como Goiás e Rondônia). Os números são do projeto Excelências, da Transparência Brasil (www.excelencias.org.br).

Uma última consideração numerológica é que a taxa de sobrevivência de políticos esperançosos é baixa: como se viu, dos 18.112 candidatos em 2006, 69% não estão repetindo a dose este ano. Assim, embora o olho gordo num posto parlamentar seja considerável, a concupiscência tem vida curta.

CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil

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