
Por Marcos Coimbra
Correio Braziliense, 20/08/2008
Nas próximas seis semanas e meia, as pesquisas de opinião estarão em moda. Quem mora nas maiores cidades vai conviver com elas em base diária, nos jornais, na televisão e no rádio. Mesmo em muitas das menores, onde serão menos freqüentes, não haverá como se furtar a elas.
Além da carga a que, em épocas normais, a opinião pública é submetida, as pesquisas de intenção de voto vão fazer a diferença. Vivemos em uma sociedade onde as pesquisas se integraram à informação rotineiramente distribuída pela mídia, seja sobre aspectos de comportamento, seja sobre preferências e atitudes.
Em períodos como o que começou ontem, a essas vão se agregar as pesquisas eleitorais. Até no Distrito Federal, sem eleições municipais, as pessoas serão bombardeadas com elas, pois a mídia nacional lhes dará grande destaque.
Pesquisas podem servir a vários propósitos e seu uso tem se difundido muito no processo de modernização da sociedade. Na vida das empresas, as pesquisas de mercado se tornaram parte do cotidiano, à medida que aumenta a competição e se intensifica a necessidade de conhecer os consumidores.
Na política, acontece o mesmo. Seja nas campanhas, seja na cobertura da imprensa a respeito das eleições, já foi o tempo em que se abria mão das pesquisas. O que é quase secundário nas campanhas é o principal insumo da mídia.
Saber quanto têm fulano e beltrano é o que menos importa para as candidaturas, salvo, é claro, em situações em que isso é ignorado. Nas cidades pequenas, onde nenhuma pesquisa costuma ser divulgada, por exemplo, isso pode acontecer. Nelas, tal informação chega a ser preciosa. Nas cidades médias e grandes, porém, essa situação ocorre raramente.
Veículos de comunicação são compradores cada vez mais habituais de pesquisas para divulgação, oferecendo-as gratuitamente à consideração dos interessados. Com isso, ganha todo mundo, pois a informação sobre o estado da eleição deixa de ser privilégio de quem pode pagar.
É isso, aliás, que provocam as restrições à liberdade de divulgar pesquisas: só os poderosos sabem. Deixando esse aspecto de lado, o resultado disso é que as campanhas não precisam contratar suas próprias pesquisas de intenção de voto. No âmbito delas, pesquisas mais complexas e mais profundas são a regra, sempre para consumo interno, destinadas à formulação de estratégias e à orientação da comunicação.
Campanhas maiores, de candidaturas mais competitivas, nas capitais e cidades médias, usam um “mix de pesquisas”, cuja vedete são as pesquisas qualitativas. Dessas, as mais comuns são os chamados “grupos de discussão”, que são entrevistas em profundidade feitas em grupo, com pessoas “típicas” dos principais segmentos do eleitorado.
Eles são sistematicamente acompanhados através dessa técnica. Identidade visual, programas eleitorais, comerciais para a TV e o rádio, conteúdos programáticos, respostas a questionamentos ou ataques de adversários, nada disso vai para a rua antes de ser testado nesses grupos.
Os programas do Horário Eleitoral costumam ser monitorados “ao vivo”, para ver como reagem os eleitores. Em muitas cidades, a isso se agregam pesquisas diárias de evolução das intenções de voto. Com elas (para as quais se usa o nome inglês de “tracking polls”), as campanhas identificam os efeitos de cada fato, cada novidade, e podem responder com rapidez.
No quartel-general dos candidatos, o anúncio de que uma pesquisa vai ser divulgada pela mídia desperta pouca curiosidade: essas pesquisas antecipam resultados. Resumindo: o que a opinião pública vai ver, de agora a outubro, em matéria de pesquisa, é a ponta de um iceberg. Quase tudo que conta, no dia a dia das campanhas, acontece debaixo d’água.
Marcos Coimbra Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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