O PSD QUE NASCE TORTO

 

Editorial do Jornal do Commercio (PE), 11/05/2011

O PSD que nasce torto. O nosso País já teve um Partido Social Democrático (PSD). Nasceu pela vontade de Getúlio Vargas, em 1945, e morreu por vontade da ditadura militar, em outubro de 1965, com a imposição do bipartidarismo. Apesar de um partido forte, que dominou o cenário político nacional no mesmo patamar de seu principal adversário, a União Democrática Nacional (UDN), a fragilidade do primeiro PSD se expressou até mesmo na hora da partilha bipartidária: muitos dos seus foram para um lado, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) de oposição à ditadura e muitos foram para o lado oposto, para a base civil dos militares, a Aliança Renovadora Nacional (Arena).

Contudo, em seu curto tempo de vida 20 anos o PSD de Getúlio abrigou uma cultura o conservadorismo rural mas teve figuras notáveis da história política brasileira, como Benedito Valadares, em Minas, e, aqui entre nós, a figura mítica de Agamenon Magalhães. Daquele Partido Social Democrático se guarda como lembrança mais viva a eleição de Juscelino Kubitschek e, entre nós, a ação dos coronéis da Guarda Nacional, líderes locais carimbados como essedistas, pelo jeito manhoso de fazer política.

O novo PSD renasce em condições históricas radicalmente diferentes, mas não será exagero imaginar que traz sementes daquele jeito manhoso, como quando é apresentado pelo seu criador como um partido que não é de esquerda nem de direita, não pretende fazer oposição a Dilma, mas não vai apoiar o governo. Isto é, nem contra nem a favor, antes pelo contrário. Essa falta de identidade com que renasce a sigla sem as raízes do passado – desde a dimensão de seu criador antes e o de agora, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, em contraste com Getúlio à sua fortaleza rural, posto que o PSD do passado estava enraizado na estrutura econômica e social predominante, dá ao novo partido uma imprecisão doutrinária tão forte quanto a cara de uma agremiação que toma o lugar de outra em processo de falência, apenas para cumprir uma meta eleitoral.

O partido que está sendo gestado pelo prefeito de São Paulo tem recebido, por isso mesmo, as mais diversas críticas, oriundas dos mais diversos segmentos políticos e, ao que parece, todas justas. Como se estivéssemos diante de um partido político que não sabe para que veio, exceto para acomodar figuras insatisfeitas no bloco em que se encontram. Um guarda-chuva para abrigar os trânsfugas de outras legendas, especialmente do DEM que, ao lado do PSDB, ainda representa o que resta de oposição no País.

Não pode ter grande futuro uma legenda dessas, assim como não podem mais enganar os eleitores políticos que por oportunismo e vontade de aderir ao governo procuram um biombo eleitoral, que mais cedo do que se espera estará integrando a base de apoio ao governo, venha ele de onde vier. Basta ser governo. O mais surpreendente nessa agremiação são as especulações em torno de uma futura aliança com o PSB, para realizar um projeto de poder mais ambicioso. Uma engenharia política que reescreveria a história dos partidos políticos brasileiros.

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