O PESO DOS APOIOS POLÍTICOS

Maurício Costa Romão

A capacidade de transferência de votos é um assunto deveras controverso na literatura especializada, até por conta da dificuldade de mensuração. Um candidato que vence uma eleição apoiado por uma grande liderança, venceu por causa do apoio dessa liderança? Venceu por causa do seu próprio desempenho? Venceu por causa de outros fatores determinantes? Ou venceu por causa de todas essas razões? Como mensurar a influência de cada qual?

Essas observações vêm a propósito das frequentes referências que têm sido feitas sobre quem detém mais poder de influenciar votos na eleição do Recife, no contexto do embate PT x PSB: Lula ou Eduardo Campos?

Veja-se, por exemplo, matéria da revista Época, reproduzida em prestigiado blog da capital (quarta-feira, 15/08), da qual apenas uma parte do trecho é aqui extraída:

Segundo uma sondagem realizada pelo PT entre os eleitores recifenses, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva conquista mais votos no Recife do que o governador pernambucano Eduardo Campos… As eleições na capital pernambucana começam demarcadas como uma disputa de forças entre Eduardo Campos, que apóia a candidatura do socialista Geraldo Julio, e Lula, que está com Humberto Costa.

Coluna política de importante jornal da capital (terça-feira, 14/08) vai no mesmo diapasão:

“…No Recife, os petistas apostam no apoio do líder maior do PT para garantir a vitória da chapa encabeçada por Humberto Costa. Pesquisas internas recentes, checadas por membros do PT, dão conta de que a influência de Lula sobre o eleitorado é o dobro da que exerce o governador Eduardo Campos…”

Abstraindo-se da ênfase jornalística na peleja PSB versus PT e centrando-se na questão quantitativa dos apoios, é oportuno analisar a segunda parte do texto do jornal, onde se diz que Lula tem duas vezes mais influência sobre o eleitorado que Eduardo Campos.

É desnecessário maiores rigores conceituais, mas é oportuno precisar que ao se referir à “influência sobre o eleitorado” a matéria quer significar a capacidade do líder de fazer com que o eleitor vote na sua indicação.

Pois bem, nos levantamentos do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) essa constatação de que Lula tem duas vezes mais influência sobre o eleitorado que Eduardo Campos é referendada em proporção até maior.

Por exemplo, em julho as intenções de voto de Humberto foram 35,5%. Quando, entretanto, se dizia ao entrevistado que Humberto era candidato apoiado por Lula, suas manifestações de voto subiam para 42%, um acréscimo de 6,5 pontos de percentagem.

Na mesma pesquisa de julho, Geraldo teve 6,8% das preferências dos eleitores. Quando estes eram advertidos de que Geraldo era o candidato apoiado por Eduardo, as intenções de voto do pessebista passavam para 9%, um adendo de 2,2 pontos percentuais.

Já na pesquisa IPMN de agosto, Humberto recebeu 32,5% e Geraldo 14,4% de intenção de votos. Esses números sobem para 36% e 15% quando os apoios respectivos são explicitados (acréscimos de 3,5 pontos para Humberto e 0,6 ponto para Geraldo).

Em outras palavras, a influência de Lula foi três vezes maior do que a de Eduardo em julho e quase seis vezes maior em agosto.

Considere-se, agora, que até a data do pleito todos os eleitores vão tomar conhecimento de “quem apoia quem”, de sorte que os percentuais relevantes de intenção de votos passam a ser os que incorporam os respectivos apoios.

Em sendo assim, qual foi o resultado líquido da desproporção em favor do ex-presidente, para o seu candidato Humberto Costa? Com o eleitorado sabendo quem apoiava quem, Humberto caiu de 42% para 36%, de julho para agosto.

E qual foi o resultado líquido da desproporção em desfavor do governador, para o seu candidato Geraldo Júlio? O postulante do PSB cresceu de 9,0% para 15%.

Conclusões:

(1) mais importante que comparar o peso da influência dos apoios em cada pesquisa é observar a variação das intenções de voto dos candidatos apoiados de uma pesquisa para outra.

(2) A importância numérica do apoio (dobro, triplo, etc.) depende da base de comparação.

Por exemplo, imagine-se, numa mesma pesquisa, um candidato que tem 40% de intenção de votos e passa para 42% quando os eleitores sabem que ele é apoiado por ABC. Um outro candidato, que tem 10%, vai para 11% quando o apoio de XYZ é declarado. Pode-se dizer, então, como na matéria do jornal, que “a influência de ABC sobre o eleitorado é o dobro da que exerce XYZ…”

Mas e daí? Nesta pesquisa fictícia, quando os apoios são explicitados, o candidato de XYZ cresce 10%, e o de ABC, 5%. Na verdade, quem exerce o dobro de influência é XYZ.

Veja-se o caso real de pesquisa IPMN de julho, já comentado acima. Lula teve três vezes mais influência que Eduardo, em valores absolutos (acréscimo de 6,5 pontos contra 2,2). Contudo, o candidato indicado por Lula cresceu 18% (de 35,5% para 42%), enquanto que o indicado por Eduardo cresceu 32% (de 6,8% para 9%).

(3) Na ausência de meios apropriados de mensuração, costuma-se “medir”, simplificadamente, o peso do apoio no final do pleito, post factum, observando o que aconteceu com o candidato apoiado. O candidato apoiado pelo líder X ganhou? Então o líder X exerceu influência sobre o eleitorado (abstraindo-se de outras variáveis). E ganhou de um opositor também apoiado por outro líder, Y? Então X teve mais influência que Y.

O candidato apoiado pelo líder X perdeu? Então o líder X pode ter influência sobre o eleitorado, mas não o bastante para transferir votos que levasse seu candidato à vitória.

Parodiando famoso dictum: “influência sobre o eleitorado é como mineração, só se sabe depois da apuração”!

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br https://mauricioromao.blog.br.

 

 

 

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