O MODELO DA MACROMÉTRICA E A PESQUISA DATAFOLHA

Maurício Costa Romão

 A Macrométrica, consultoria do ex-presidente do Banco Central, Chico Lopes, elaborou um modelo estatístico que faz projeções sobre resultados de eleições presidenciais.

Segundo matéria do jornal Valor Econômico, escrita por Sérgio Lamucci, em 12/08/2014, sob o título “Macrométrica projeta vitória do PSDB com modelo de estatístico americano”, para fazer projeções a consultoria: 

“… usou o esquema de análise de Nate Silver, o editor-chefe do site “FiveThirtyEight”. Silver ficou famoso por ter acertado o resultado de todos os 50 Estados na eleição presidencial americana de 2012, quando Barack Obama se reelegeu, ao vencer Mitt Romney”.

Aplicando esse modelo da Macrométrica à pesquisa do Datafolha dos dias 14 e 15 de agosto do corrente ano, têm-se os seguintes resultados, projetados na suposição de que as eleições se realizassem agora:

Intenções de voto na pesquisa do Datafolha

Primeiro turno: Dilma Rousseff 36%, Marina Silva 21%, Aécio Neves 20%, outros 6%, brancos e nulos 8% e não sabe/não respondeu 9%.

Segundo turnoCenário A (Dilma X Marina):

Dilma 43% e Marina 47%, votos brancos e nulos 6% e não sabe/não respondeu 4%.

Votos não comprometidos com essas duas candidaturas (VNCa) no primeiro turno: 43% (votos de Aécio + outros candidatos + brancos + nulos + indecisos).

Segundo turno – Cenário B (Dilma X Aécio):

Dilma 47% e Aécio 39%, votos brancos e nulos 9%, não sabe/não respondeu 5%.

Votos não comprometidos com essas duas candidaturas (VNCb) no primeiro turno: 44% (votos de Marina + outros candidatos + brancos + nulos + indecisos).

Aplicação do modelo

Na passagem do primeiro para o segundo turno os VNCa diminuíram em 33 pontos (43% p/ 10%).

Logo, esses 33 pontos foram apropriados pelos dois candidatos que estão no segundo turno, Dilma e Marina. E como foram distribuídos entre eles? Dilma recebe 7 pontos (passa de 36% p/ 43%) e Marina fica com 26 pontos (passa de 21% p/ 47%).

Em termos de proporção, Dilma ganha 21,2% e Marina 78,8% dos votos dos não comprometidos, os VNCa . Estas proporções são chamadas de fatores de conversão.

Até aqui os dados são diretamente extraídos da pesquisa.

Observação

Como é de praxe ao final de cada eleição, no segundo turno, os votos não comprometidos sempre diminuem: os indecisos se decidem e só fica uma pequena parte de votos brancos e nulos. Por exemplo, na eleição de 2010, as urnas registraram 6,7% de votos brancos e nulos no segundo turno.

Suposição

A partir de agora, assim como faz a Macrométrica, supõem-se que os não comprometidos sejam da ordem de 7%, no segundo turno.

Ora, se só existem 7% de VNCa no segundo turno, então, vão ser distribuídos 36 pontos entre os dois candidatos (43% menos 7%).

E como será feita esta partição? Na mesma proporção anterior (outra hipótese): Dilma fica com 21,2% e Marina com 78,8% dos VNCa (deduzidos os 7 pontos mencionados).

Logo, Dilma obtém 7,6 pontos dos 36 e Marina, 28,4 pontos. Ou seja, Dilma fica com 43,6% dos votos e sua concorrente com 49,4%, sendo que os brancos e nulos, por construção, somam 7%.

Arremate

Como a apuração oficial do TSE é feita em votos válidos (sem os 7%), o resultado da eleição no segundo turno será a vitória de Marina por 53,1% contra 46,9%, uma diferença de 6,2 pontos percentuais.

Se a hipótese de 7% de brancos e nulos é modificada para 8% (mais representativos, talvez, do sentimento antipolítica que grassa na sociedade pós-manifestações de junho do ano passado), a vitória de Marina dar-se-ia por uma margem menor: 52,8% a 47,2%, uma diferença de 5,6 pontos, considerando-se as mesmas taxas de conversão.

Pode-se fazer também a suposição de que a parte da alienação eleitoral que corresponde aos votos brancos e nulos contrarie as previsões nesta eleição de 2014.

Imagine-se, por exemplo, que os votos brancos e nulos sejam até menores que em 2010, algo como 6%. Aí se amplia ligeiramente a margem pró-Marina e ela colocaria uma frente de 6,8 pontos, saindo vencedora do pleito por 53,4% a 46,6%, dadas as taxas de conversão.

O raciocínio a ser empregado no cenário em que aparecem Dilma e Aécio no segundo turno é o mesmo deste em que figuram a presidente e Marina.

Na hipótese de o segundo turno acontecer com Aécio, ele ficaria com 46,7% dos votos válidos e Dilma asseguraria a vitória com 53,3%.

Considerações finais

O modelo da Macrométrica parece não precisar da sofisticação das estatísticas de Nate Silver, pelo menos enquanto usado em uma só pesquisa. Na verdade, trata-se de um modelo simples, que depende das taxas de conversão extraídas das pesquisas (21,2% para Dilma e 78,8% para Marina, nesta pesquisa do Datafolha, por exemplo,) e da hipótese sobre quantos por cento serão os votos brancos e nulos no segundo turno.

Apesar da sua simplicidade, trata-se de ferramenta muito útil para estrategistas e analistas eleitorais.

O modelo mostra uma importante conclusão: quanto maior o total de brancos e nulos, dadas as taxas de conversão, mais diminui a distância entre a presidente e Marina e mais a petista se afasta de Aécio.

Neste modelo, portanto, se estabelece um paradoxo: as inquietudes de junho de 2013, que ensejaram sentimentos apolíticos e antigovernos, tendo o governo federal como alvo mais destacado, podem provocar aumentos nas taxas eleitorais de indiferença (votos em branco) e de protesto (voto nulo) que beneficiam o próprio governo!

Outra dedução interessante é sobre as taxas de conversão. Se as taxas de conversão de Marina e Aécio diminuírem (quer dizer, quanto menos receberem votos dos não comprometidos na passagem do primeiro para o segundo turno), mais Dilma tem chance de vencer a eleição.

Um elemento importante por trás dessas possibilidades que dão musculatura numérica a Dilma Rousseff é o seu “estoque” de votos no primeiro turno, etapa em que lidera a corrida presidencial bem à frente de seus concorrentes mais diretos.

Com efeito, na passagem do primeiro para o segundo turno, a presidente agrega poucos votos proporcionalmente, quer dizer, tem baixa taxa de conversão, mas carrega consigo um robusto estoque de votos, o que se constitui numa grande vantagem no confronto final.

 

Por outro lado, quanto mais se estreitar a diferença de intenção de votos no primeiro turno entre a presidente e os seus oponentes, mais chances têm a oposição de ganhar o pleito no segundo turno.

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.

 

2 comentários em “O MODELO DA MACROMÉTRICA E A PESQUISA DATAFOLHA”

  1. A Paz e a Graça de Jesus,
    Prezado Maurício Romão,
    Interessante o artigo. Só tenho algumas dúvidas quanto ao resultado do DataFolha:
    1) O contexto da pesquisa foi num cenário de “forte emoção” e acredito aí está um viés, no meu ver até intencional do DataFolha, pois, do pouco que conheço de estatística, o resultado não poderia ser outro, ou seja uma projeção focada as respostas na candidata Marina;
    2) No registro origatório da pesquisa no TSE, BR-00386/2014, por falta de descrição adequada do principal item da pesquisa – Metodologia – não está indicado informações que permitam entender como foi calculado o número de municípios e como foram escolhidos os municípios partipantes. Por exemplo no estado de São Paulo com 22,4% do Total dos eleitores atuais em condição de voto, além evidentemente do município de São Paulo (com 22 subregiões), escolheu-se mais 31 municípios, mas na metodologia não está explícito a forma da escolha. Entendi também como enviesada a escolha, pois, resido em Marília, e verificando os municípios participantes do nosso entorno (Noroeste/Alta Sorocabana/Alta Paulista ) foram escolhidos os municípios de Bastos, Junqueirópolis, Penápolis e Jahu (se foi por sorteio, somos ótimos pé-frios!). Não entendo que os mesmos sejam representativos das região Noroeste/Alta Paulista/Alta Sorocabana, pois, utiliza-se o sorteo para que todos tenham a mesma probabilidade de escolha, no entanto NÂO estão incluídos municípios representativos das regiões Administrativas de Botucatu, Bauru, Marília, Tupã, Adamantina, Dracena, na alta Paulista e Bauru; como também das regiões administrativas de Ourinhos, Assis e Presidente Prudente da Alta sorocabana.
    Em vista desses pequenos viéses acho prematuro usar um “Modelo Macrométrico Emocional”, pois acredito que o artigo que o senhor inicia citando foi elaborado levando-se em conta pelo menos o mínimo exigido para que a modelagem adotada tivesse a mínima credibilidade, senão como fica o modelo de Nate Silver no contexto?
    Um abraço, sem paixões políticas,

    Sebastião Carvalho

  2. A Paz e a Graça de Jesus,
    Prezado Maurício,
    Não fiz revisão do texto (acho que é a idade…) e somente agora depois do texto publicado verifiquei que cometi alguns erros de escrita, os quais espero que sejam “perdoados”,
    Atenciosamente,
    Sebastião Carvalho

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