O IBOPE NA ELEIÇÃO DA PARAÍBA

Por Maurício Costa Romão

A grande maioria das análises que trata de desempenho de pesquisas eleitorais se debruça sobre a averiguação dos números estimados pelos diferentes institutos, imediatamente antes dos pleitos, e suas divergências vis-à-vis os resultados oficiais.

Estimativas fora da margem de erro, ainda que apenas ligeiramente afastadas dos limites da margem, são consideradas falhas de previsão das pesquisas. Sob este critério, o desempenho dos grandes institutos, a nível nacional e estadual, no primeiro turno da eleição de 2010, deixou muito a desejar, tamanha a incidência de prognósticos em desacordo com os valores observados nas urnas.

Até mesmo as pesquisas boca de urna, tidas como portadoras de elevado índice de acertos (as entrevistas são feitas depois que o eleitor vota), saíram arranhadas das eleições majoritárias recém-findas. De fato, o Ibope aplicou essa modalidade para Governador em 16 estados no primeiro turno, porém apresentou estimativas discrepantes, fora da margem de erro, em quase todos eles. O instituto também se equivocou na disputa para Presidente.

Já no segundo turno, todavia, os quatro grandes institutos que fizeram cobertura da eleição presidencial (Ibope, Sensus, Datafolha e Vox Populi) acertaram suas previsões, nas últimas pesquisas de antes do pleito, dentro do intervalo de erro.

O próprio Ibope redimiu-se da má performance dos levantamentos boca de urna da primeira etapa e prognosticou corretamente resultados dentro da margem de erro em sete pleitos estaduais, dentre os nove onde houve segundo turno. Também foi exitoso no prever os percentuais do embate presidencial.

Apesar da inegável melhoria de desempenho, os problemas de previsão que o instituto teve na Paraíba no primeiro turno, continuaram no segundo. No primeiro, na pesquisa divulgada dia 02 de outubro, o Ibope apontou o candidato José Maranhão com 51,65% dos votos válidos, considerando-o vencedor da eleição já naquele turno, porém o candidato, além de não ter ganhado, obteve menos votos que o oponente, Ricardo Coutinho.

Na pesquisa boca de urna, do mesmo turno, os prognósticos do Ibope para os dois candidatos ficaram fora da margem de erro, com o agravante de, mais uma vez, o instituto identificar erradamente o vencedor daquela etapa da eleição.

No segundo turno, o engano se repete: a boca de urna do instituto previu empate numérico de intenção de votos válidos entre os candidatos, 50% a 50%, projeção que ficou além da margem de erro de três pontos, já que ganhador e perdedor obtiveram nas urnas 53,70% e 46,30%, respectivamente.

Como a disputa governamental na Paraíba foi bastante acirrada, caracterizada por elevada temperatura emocional, as pesquisas passaram a ser protagônicas, com o desempenho previsional do Ibope alvo de uma enxurrada de críticas, entre procedentes e equivocadas.

A pesquisa é um mero instrumento técnico de acompanhamento do processo eleitoral, que serve para apontar tendências, a partir de levantamentos sucessivos. Ela não projeta o futuro e, portanto, é incapaz de predizer os percentuais exatos que os candidatos obterão nas urnas. E sempre haverá alguma discrepância entre as previsões dos institutos e os números oficiais, já que as pesquisas se baseiam no fato concreto de que no mundo real trabalha-se com amostra e não com o universo.

O máximo que a pesquisa pode fazer é estabelecer um intervalo de variação para suas estimativas, dentro de certo nível estatístico de confiança, assim mesmo, sob a égide das probabilidades, vez por outra os números das urnas ficam fora desse intervalo.

Enfim, as pesquisas erram, conforme ficou evidenciado no pleito paraibano, mas o fazem em quantidade disparadamente menor do que acertam. Carecem de aperfeiçoamentos, claro, mas não de amarras legais. E não se deve exigir delas aquilo que elas não podem dar. ————————————————————————– Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia e autor do livro “Dinâmica eleitoral no Brasil: fórmulas, competição e pesquisas”. mauricio-romao@uol.com.br. https://mauricioromao.blog.br.

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