Blog do Alon, 12/10/2011
Alon Feuerwerker
A política conduz a situações estranhas. Parece ser o caso do Democratas (DEM), que caminha para vetar coligações nas quais o novo Partido Social Democrático (PSD) seja cabeça de chapa.O DEM aceita alianças com o PSD na eleição municipal, desde que o desafeto/parceiro fique em posição subalterna.Uso o verbo “parecer” pois essa política pode ser racionalmente explicada. É uma questão de prioridade. Deseja-se enfraquecer (ou pelo menos não fortalecer) a legenda criada a partir do DEM.
Lembro quando o então PDT, Leonel Brizola à frente, fez algumas alianças, inclusive informais, com o governista PDS na eleição de 1982, ainda sob o governo militar mas já a caminho da abertura plena. A rivalidade principal era com o PMDB.
E teve também a trajetória antialiancista do PT, que só mudou de posição depois de tomar o poder. Aí passou a dar prioridade ao isolamento regional do potencial adversário federal. Para tentar matar o risco pela raiz.
A lógica é simples. Tanto quanto bater o inimigo, é preciso cuidar para que no processo não cresça um aliado capaz de tomar a hegemonia.
Daí, por exemplo, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva corteje dia sim outro também o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Em países com menos partidos, essa guerra secundária costuma acontecer nas internas. Os candidatos a líder travam a batalha intestina para só depois voltar a atenção ao inimigo externo.
Aqui também há ensaios de lutas internas, mas elas morrem no nascedouro, pois nossos partidos não têm mecanismos minimamente democráticos para o acerto de contas dentro de casa.
E vem a cissiparidade, as siglas vão brotando umas das outras para dar vazão a projetos políticos sem espaço interno.
Como aconteceu no cisma DEM/PSD.
Ou seja, o DEM parece concentrado em evitar o surgimento de uma alternativa no seu próprio campo, e isso tem alguma lógica. Talvez o ilógico esteja no preço a pagar. Para enfraquecer o PSD, o DEM está disposto a ele próprio enfraquecer-se ainda mais.
O DEM tem um trunfo na eleição de 2014, o tempo de televisão. Pois parece razoável que a Justiça negue ao deputado e senador que troca de partido o direito de carregar com ele o tempo.
Mas o DEM também enfrenta um problema. Seus parlamentares, como os demais, dependem das bases municipais.
Ainda está por medir quanto o DEM foi efetivamente sangrado nos municípios, mas a conta não deve ser agradável para os dirigentes do partido. E o PSD foi montado com base numa certa “política de governadores”, em acomodação com os poderes locais.
É duvidoso que apenas o tempo de tevê seja suficiente para o DEM enfrentar as circunstâncias em 2012.
O Democratas poderá argumentar que o PT construiu-se no isolamento, e terá certa razão. Mas há uma diferença.
O PT carregou uma militância social que lhe deu musculatura e gordura para fazer a travessia do deserto.
Há uma base social para realavancar o DEM? Sim, mas a concorrência é forte. Além do próprio PSD, de origens liberais, há o PSDB, que busca reposicionamento no mercado do voto.
Ainda que os tucanos não deem a impressão de saber bem para onde querem ir.
E ambos, PSDB e PSD, numa situação de vantagem comparativa sobre o DEM, em máquina e imagem.
Quando o DEM cuida de pôr antes na fila de prioridades o enfraquecimento do PSD, acima do fortalecimento dele próprio, permite especular se os dirigentes do partido acreditam mesmo em si como projeto estratégico.
Inclusive porque não se vislumbra um candidato do DEM à Presidência da República. Coisa que o PT sempre cuidou de ter, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.
Sem isso, ou os demistas acham um porto seguro ou as tendências centrífugas vão acelerar.