MUDANÇA VERSUS CONTINUIDADE
Maurício Costa Romão
As pesquisas eleitorais que se sucedem umas às outras continuam mostrando que a irrupção das manifestações de junho gerou sementes de insatisfação que permanecem brotando urbi et orbi.
Desta feita, são os dois últimos levantamentos dos institutos Ibope e Datafolha, no mês de novembro, que identificam haver na população grande contingente de eleitores – nada menos que dois em cada três – que quer mudanças na próxima administração presidencial (66% no Datafolha e 62% no Ibope).
As tabelas abaixo sintetizam as informações do Datafolha referentes aos 66% dos eleitores que desejam que a gestão do próximo presidente seja diferente da levada a efeito por Dilma Rousseff. Tais informações estão desagregadas por algumas características socioeconômicas, de localização geográfica e políticas.
Nota-se que os eleitores que mais desejam mudanças se concentram nos núcleos: feminino, jóvens, que têm curso superior, que são de maior renda, localizados no Sudeste e em capitais de estados, que reprovam a administração Dilma e têm maior contingente no Partido Verde (PV).
Já os eleitores que menos preferem mudanças são do sexo masculino, de faixa etária idosa, os que têm apenas o fundamental, de baixa renda, os que se localizam no Nordeste e no interior dos estados, os que aprovam a gestão da Presidente e admiram o PT.
Observe-se que a amplitude do diferencial entre os que mais desejam mudanças e os que menos desejam é relativamente pequena, exceto na avaliação de governo e na preferência partidária. Isso significa que a insatisfação é mais ou menos homogênea entre os diversos estamentos sociais. Ou seja, a presidente está tendo dificuldades elevadas de aceitação mesmo entre seus adeptos.
A pesquisa do Datafolha mostra, por outro lado, que a presidente Dilma vem-se recuperando devagar, mas constantemente, da queda de avaliação sofrida no meio do ano. Embora a média de aprovação da gestão governamental (ótimo e bom) em 10 pesquisas pós-manifestações continue em 38%, neste levantamento do final de novembro essa aprovação atingiu 41%. Índice expressivo, mas ainda distante dos 65% de março passado.
Tem-se aí, portanto, um estimulante embate que certamente trará grandes emoções ao pleito que se avizinha: uma trajetória ligeiramente ascendente de popularidade da presidente em luta contra um percentual elevado de insatisfação incrustado na população.
Do ponto de vista aritmético, o desafio da presidente será o de conquistar ao menos 50% da parcela dos 2/3 de eleitores que querem mudança de ações governamentais. Se fizer isso ela reverterá as frações, ficando com 2/3 que desejam a continuidade de seu governo. A reeleição estaria garantida.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br. https://mauricioromao.blog.br.