(MDU + FBC) X PREFEITO

 

Maurício Costa Romão

Quando se fala sobre desenvolvimento de um determinado lugar há que se ter dois cuidados: (1) não apequenar o conceito, a ponto de circunscrevê-lo apenas à sua dimensão econômica e (2) não multidimensioná-lo, a ponto de torná-lo muito complexo, intangível, não mensurável.

De há muito está assentado na literatura especializada que o crescimento econômico é condição necessária, porém insuficiente para o desenvolvimento integral das pessoas. Esse é um assunto vencido, hoje incontroverso. Não se persegue mais o crescimento econômico como um objetivo em si mesmo.

A superação dessa visão econômica do desenvolvimento deu-se através da incorporação de outras dimensões ao conceito, como a vertente humana (da qual se originou o IDH), a moderna tese de sustentabilidade, etc, propiciando maior amplitude para a compreensão de como as pessoas podem alcançar uma vida melhor.

Naturalmente, esses avanços metodológicos têm um custo (trade-off). Quanto mais dimensões são consideradas (políticas, ambientais, antropológicas, sociológicas, psicológicas, etc.), mais o conceito se torna pouco operacionalizável. E aí, quando isso acontece, impera a subjetividade (“a pobreza, como a beleza, está nos olhos de quem a vê”, Mollie Orshansky). Ou, como teria dito alguém, “o desenvolvimento é como um elefante: difícil de definir, porém fácil de reconhecer”.

À crítica do ministro Fernando Bezerra Coelho, fazendo coro com a oposição (MDU), de que “o Recife precisa acompanhar o ritmo de desenvolvimento vivido pelo Estado”, o prefeito João da Costa rebateu dizendo que “as críticas são desmentidas pelos números. O PIB da cidade cresce no mesmo ritmo do estado. Isso é fato”.

Nota-se, assim, que, na ausência de menções conceituais mais precisas, é em termos de crescimento econômico que o debate vai ser travado. E se essa é a referência, as estatísticas não dão suporte à afirmação do prefeito.

Com efeito, dados do Condepe/Fiam mostram que de 1999 a 2008 a relação PIB do Recife sobre PIB do estado decresceu sistematicamente de 37,3% para 31,9%, uma perda de participação de 5,4 pontos de percentagem. Usando uma regressão linear simples, para compensar a ausência de estatísticas mais recentes, estima-se que essa participação em 2011 haja caído para cerca de 30,0%. Então, não é “fato” de que “o PIB da cidade cresce no mesmo ritmo do estado”. Se o fizesse, nesses últimos 13 anos, a relação entre os PIBs não se teria modificado.

A conseqüência desse insuficiente desempenho produtivo se reflete na posição que a economia da cidade ocupa hoje em relação às demais capitais do Nordeste (3ª posição, atrás da Salvador e Fortaleza) e em comparação aos 100 maiores municípios do País (20º lugar).

É indiscutível que o Recife, em termos de pujança econômica, perdeu a liderança regional ao longo dos anos e se distanciou de outras capitais do País.  Entretanto, desfruta ainda de alguns indicadores favoráveis que, num projeto estratégico de estímulo aos investimentos e aproveitamento de suas potencialidades, podem ajudar a recuperar o tempo perdido, alavancar o desenvolvimento econômico local e aproximar-se do desempenho do estado.

A capital tem o maior PIB per capita do Nordeste (proxy para o potencial de consumo da população local), um parque industrial razoavelmente diversificado e moderno, um dinâmico setor terciário, particularmente nas áreas de comércio e serviços, e um segmento de turismo de grande potencial. Conta, também, com razoável infra-estrutura aéreo-portuária, de energia, de transportes, e de comunicações. Seus níveis médios educacionais se sobressaem no Nordeste e a cidade possui uma bem estruturada e diversificada base de ciência e tecnologia.

 A exploração estratégica dessas potencialidades requer a adoção de proposta governamental que coloque o papel da economia entre as prioridades. Sem o crescimento econômico não há como expandir a base de recursos econômicos e tecnológicos que possibilitam a transformação social e a inserção das pessoas em outras dimensões do desenvolvimento.

O debate faz sentido!

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Políticas e de Mercado, e do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br

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