Marcos Coimbra
Blog do Noblat, 30/09/2012
As pesquisas que o Ibope faz para Confederação Nacional da Indústria (CNI) são sempre importantes. Compõem a mais longa série disponível de levantamentos sobre a opinião pública nacional, com foco em temas de governo e economia. E permitem comparar o modo como todos os presidentes da República modernos foram avaliados.
São, além disso, feitas regularmente, em datas previsíveis. Não é o que acontece com outras, realizadas em função de decisões editoriais e do uso que se pretende dar a elas.
A mais recente, divulgada na quarta-feira, era especialmente significativa. Havia grande curiosidade a respeito de seus resultados, pois vinha depois de um período peculiar, marcado por intensas especulações, muita torcida e alguns temores.
A pesquisa ajudou a esclarecer as coisas.
Sua conclusão mais relevante é que, entre junho e o final de setembro, aumentou a aprovação do governo Dilma: a proporção dos que acham que é “ótimo”ou “bom” subiu de 59% para 62%.
De acordo com a pesquisa, a melhora veio da mudança na avaliação “regular”, que recuou três pontos percentuais: diminuíram os que achavam regular e aumentaram os que consideram positivo o desempenho do governo.
A opinião de que é “ruim”ou “péssimo” permaneceu estável, indo de 8% para 7%.
São novos recordes para chefes de governo nessa altura do mandato. É mais que Lula tinha no final de 2004 e muito mais que Fernando Henrique em 1996.
Andaram em direção igual os números relativos à confiança na presidente. De junho para cá, a proporção dos que dizem confiar nela foi de 72% para 73%. Quase dois terços dos entrevistados, 62%, disseram acreditar que sua administração será “ótima” ou “boa” até o final.
Em outras palavras: bem avaliada hoje, expectativas elevadas para os próximos dois anos.
São resultados que deixariam satisfeitíssimo qualquer governante atual. Em plena crise internacional, com as economias em dificuldades, tamanha aprovação é raridade.
O fato de ela estar subindo no final de um ano eleitoral não é anormal. Desde o primeiro mandato de FHC, existe esse padrão. Os presidentes costumam atravessar o segundo ano de governo com a popularidade em ascensão.
O mais importante – e, para muitos, inesperado – na pesquisa é que Dilma melhorou no auge do assunto “mensalão”. Era a respeito das consequências do julgamento na sua popularidade que se especulava.
Sempre esteve claro que o alvo primordial da campanha para fazer do “mensalão” o “maior escândalo politico da história brasileira” – e de seu julgamento no Supremo Tribunal Federal o “julgamento do século” – é Lula. Em segundo lugar, o PT. Em terceiro, seus candidatos a prefeito nas capitais e grandes cidades.
Mas, por seus vínculos com o ex-presidente, apostava-se que Dilma sairia arranhada do julgamento. Que sua imagem sofreria.
A pesquisa mostra que não. E sugere o porquê.
Apesar do esforço dos veículos da grande indústria de comunicação para promover o assunto, não mais que 16% dos entrevistados pelo Ibope disseram que o “mensalão” era a “principal notícia” política recente. Não muito mais que os 11% que qualificaram assim a redução do valor das tarifas de energia elétrica.
Não basta anabolizar um tema. É preciso que tenha relevância real para a maioria.
O saldo da pesquisa é que Dilma melhorou seu potencial eleitoral. Tinha já 60% das intenções de voto nas pesquisas conhecidas. Até onde pode ir?
Ou seja: no confronto que realmente conta, a sucessão presidencial em 2014, o “lulopetismo” possui dois candidatos muito fortes. Dilma, que se consolida a cada dia. Lula, por ser quem é.
Face a isso, ganhar ou perder as prefeituras de algumas cidades, mesmo importantes, quer dizer pouco. Ou nada.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi