JUNHO, PETROBRÁS, CINISMO

Maurício Costa Romão

Entre as várias bandeiras hasteadas pela população nas ruas, em junho de 2013, três delas tremularam em mastros mais elevados: a do basta na corrupção, a de nova prática política, alicerçada na ética, e a de serviços públicos de qualidade.

Essas demandas da massa insurgente que ocupou as ruas físicas na ocasião, e que continua até agora reverberando reclamos nas ruas virtuais, não foram sequer tangenciadas quanto ao seu atendimento mínimo.

Daí o sentimento de insatisfação que grassa na sociedade com a situação no país. Sentimento esse que resvalou até para certo tensionamento social, visível antes da Copa do Mundo.

Com efeito, pesquisa recente do renomado instituto americano Pew Research Center aponta que 72% dos brasileiros em 2014 estão insatisfeitos com as coisas no Brasil, ao passo que apenas 26% consideraram-se satisfeitos. Esses índices eram 55% e 44% em 2013, respectivamente.

A alta insatisfação desperta desejos de mudança na forma como o país vem sendo administrado.

Nas pesquisas do Ibope, por exemplo, pergunta-se se os brasileiros gostariam que o próximo presidente da República (a) mudasse totalmente ou muita coisa no governo do país, ou (b) fizesse poucas mudanças e desse continuidade ao governo atual.

O desejo da população tem sido majoritária e crescentemente o de querer mais mudanças (a): 62% (nov/2013), 64% (mar), 65% (mai), 69% (ago) e 70% (set/2014).

A desesperança dos brasileiros com a política e os políticos então, atinge graus alarmantes, de que é prova a intensa pregação pelas redes sociais de maior alienação eleitoral em outubro de 2014: aumento dos índices de abstenção, votos em branco e votos nulos. Insuflação à anti-polítca, simples assim.

Essa incredulidade tem sobejas justificativas. Basta ver a desfaçatez com que alguns políticos e o governo federal abordam esse medonho episódio da Petrobrás.

A população é tratada como se fosse um ajuntamento de imbécis, que não percebe o que está acontecendo, que está alheia à descarada roubalheira a que a empresa foi submetida durante anos, numa diabólica confraria que envolve políticos, partidos e empresas.

Ledo engano. No âmbito nacional, na última pesquisa do Ibope, dos dias 13 a 15 de setembro, nada menos que 65% dos brasileiros alegaram ter tomado conhecimento das denúncias de corrupção envolvendo a Petrobrás.

Pesquisa em Pernambuco perguntou se os entrevistados ficaram sabendo de alguma notícia recente sobre corrupção. 41% disseram que sim e 54% que não. Dos que afirmaram sim, 60% apontaram espontaneamente a corrupção na Petrobrás como a que mais chamou a atenção, vindo em seguida o mensalão, com 19%.

Instados a se pronunciarem se acreditaram na notícia, 88% disseram que sim e 6% afirmaram que não. Depois, 31% responderam ainda que essa notícia lhes fariam mudar de voto nesta eleição de outubro.

Ainda no âmbito local, desta feita no Recife, levantamento desta semana arguiu os entrevistados sobre se já ouviram falar da Petrobrás: 89% disseram que sim, sendo que 73% destes afirmaram, em seguida, que havia corrupção na Petrobrás.

Destes que declararam haver corrupção na Petrobrás, 55% apontaram a presidente Dilma como a principal responsável pelos escândalos da empresa, 2% indicaram Lula, 2% o PT e 1% a presidente da Petrobrás. Outros políticos foram mencionados por 5%, e 35% não souberam responder.

Vê-se aí como membros do PT e o próprio partido estão, na percepção de grande parte dos eleitores recifenses, umbilicalmente ligados aos desmandos que campeiam na principal estatal brasileira. E observe-se que Pernambuco e sua capital são estrondosos redutos do lulopetismo.

Não é à toa que o PT, outrora tão simpatizado pelos brasileiros enquanto agremiação partidária, vem paulatinamente perdendo seu appeal. Segundo pesquisas do Ibope a preferência partidária nacional pelo PT entre os eleitores era de 36% em abril de 2013, de 22% em março do ano seguinte e de 16% agora em setembro.

Os políticos parecem que nada aprenderam das inquietudes de junho do ano passado, quando o brasileiro aflorou sua enrustida capacidade de se indignar.

Continuam desfilando seu descaramento nesses espetáculos circenses de empurra-empurra e acobertamento a que se assistem no conluio governo federal-base aliada no Congresso Nacional.

Como se diz coloquialmente por aí: “bem, vocês é que sabem…”

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.

 

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