INVASÃO DE REDUTOS

Maurício Costa Romão

O Datafolha realizou em agosto duas pesquisas após a morte de Eduardo Campos: uma nos dias 14 e 15 e outra nos dias 28 e 29. Entre uma e outra, Marina Silva subiu de 21% para 34% de intenções de voto, já empatando tecnicamente com a então líder Dilma Rousseff.

Nas duas pesquisas o Datafolha desagregou os dados por sexo, idade, escolaridade, renda familiar, natureza do município (região metropolitana e interior), porte do município, região do país e religião.

Um fato que chama à atenção é que Marina cresceu de um levantamento para outro em todos os segmentos internos desses estratos, e o fez de forma homogênea, com um avanço de nunca menos que 11 pontos de percentagem em cada um (exceto no segmento 45 a 59 anos de idade, no qual ela subiu “apenas” 10 pontos).

Isso significa que alguns segmentos cativos do reino de Dilma e do lulopetismo foram parcialmente invadidos pela avalanche acreana.

Por exemplo, nesses bunkers, Marina cresceu no conjunto dos eleitores que têm apenas o ensino fundamental, nas famílias que recebem até dois salários mínimos, nos eleitores que têm entre 45 e 59 anos e nos que têm acima de 60 anos, nos municípios do interior, em municípios de até 50 mil habitantes, nas regiões Nordeste e Norte, e até entre os católicos.

Pari passu, Dilma perdeu, ou não ganhou pontos, em todos esses segmentos, exceto no eleitorado do ensino fundamental, no qual ganhou um ponto.  

Nas simulações de segundo turno, entre uma pesquisa e outra, Marina subiu três pontos (de 47% para 50%) e Dilma caiu três (de 43% para 40%). Nesta etapa da eleição fica igualmente evidente que a entrada de Marina da disputa revolve as águas até então calmas do lago dilmista de votos.

Com efeito, apenas para destacar os redutos mais simbólicos e fiéis da presidente, o eleitorado que tem o ensino fundamental, que ganha até 2 salários mínimos, que mora no interior, que é do Nordeste e que é de idade (acima de 60 anos), neste conjunto, Dilma perde votos em todos eles, ao passo que Marina ganha em todos.

O problema de estancar a “onda Marina” é que o eleitorado que está aderindo à sua postulação é egresso dos espectros do eleitorado de seus dois concorrentes principais: pobre, não pobre, educado, não educado, metropolitano, interiorano, jóvem, idoso, etc.

Por isso mesmo, e independente do desfecho desta eleição dar-se no primeiro ou no segundo turno, o fato é que Marina tornou-se favorita para ganhá-la.

Ela parece ser o desaguadouro das esperanças de grande parte dos brasileiros que estão descrentes com a política, com a representação, com os governos, e encarna como ninguém a perspectiva de resposta às demandas de junho do ano passado.  

Neste contexto, conta, ainda, com o cada vez mais forte sentimento de mudança que se encontra espraiado pela sociedade. Nesta última pesquisa do Datafolha, por exemplo, 79% dos brasileiros afirmam querer que as ações do próximo presidente sejam diferentes das atuais, uma taxa recorde no histórico do Instituto.

A cautela recomenda, todavia, aguardar os próximos levantamentos eleitorais para poder descortinar se o crescimento das manifestações de voto a Marina tem consistência.

Mas, a julgar por alguns resultados de intenção de votos para presidente que estão aparecendo em alguns estados nesta semana, tudo indica que sim, tem consistência.

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.

 

 

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