Por Maurício Costa Romão

A literatura especializada recomenda que comparações entre resultados de pesquisas de intenção de votos só devem ser feitas entre levantamentos oriundos de mesma fonte.
Com efeito, para que comparações façam algum sentido, é necessário inicialmente observar as características das pesquisas (características estas que nem sempre são disponibilizadas ao público).
Se as pesquisas têm o mesmo desenho de concepção (tamanho da amostra, margem de erro, intervalo de confiança, modelo de questionário, procedimento de campo, etc.), então elas são estritamente comparáveis.
Quer dizer, as eventuais variações havidas nas intenções de voto dos candidatos, de uma pesquisa para outra, podem ter sido, de fato, derivadas de mudanças nas preferências da população, e não resultantes de modificações de metodologia ou de coleta de informações.
Depreende-se daí que institutos diferentes, com seus procedimentos amostrais e de campo distintos, nunca trabalham com o mesmo desenho de pesquisa. Requer-se, portanto, cuidado com o tipo de comparação que se faz entre resultados, contemporâneos ou não, de levantamentos de um instituto qualquer, Ibope ou Ipespe, por exemplo, com quaisquer outras entidades de pesquisa como o Vox Populi ou a Método.
Em se tratando desses surveys de fontes distintas, deve-se, particularmente, evitar cometer o mais comum e grave dos erros: dizer, sem nenhuma qualificação metodológica: “candidato tal subiu tantos pontos no levantamento do Sensus em relação ao Datafolha”, por exemplo. O erro reside no fato de que se está extraindo associações entre resultados de duas grandezas que são entre si não comparáveis, estatisticamente.
Mesmo entre pesquisas realizadas por um mesmo instituto, em que há relativa preservação das mesmas características de concepção amostral nos levantamentos sucessivos, há que se ter a devida atenção ao interpretar os resultados.
Ainda assim, com o devido cuidado interpretativo, é admissível usar-se uma seqüência de levantamentos originários de institutos diversos com o fito de detectar tendências. Uma maneira interessante de fazê-lo é avaliar performance de candidatos, em termos de intenção de voto, ao longo do tempo, observando os patamares dentro dos quais as candidaturas estão evoluindo.
O Gráfico que acompanha o texto mostra uma sequência de 19 levantamentos dos institutos Sensus, Vox Populi, Datafolha e Ibope.
Observa-se nitidamente que Marina Silva, do PV, circunscreveu-se ao patamar de 5 a 10% de intenções de voto desde o início da série, o que sinaliza para permanência futura nessa faixa, ou no seu entorno, ceteris paribus.
O pré-candidato José Serra tem permanecido dentro do patamar de 30 a 40%, mas com uma impressionante constância na circunvizinhança dos 35%. Mesmo depois do lançamento da pré-candidatura, no dia 10 de abril, não se vislumbra uma tendência clara de rompimento desse limite.
Já Dilma Rousseff, do PT, vem transpondo patamares em ascensão positiva, encostando e, eventualmente, ultrapassando o então líder das pesquisas, José Serra. Entretanto, os últimos quatro levantamentos de maio/junho (Vox Populi, Sensus, Datafolha e Ibope, nesta ordem) sinalizam para uma interrupção na trajetória ascendente.
A eleição esta polarizada entre os pré-candidatos Serra e Dilma. Ambos parecem ter dificuldades, nesse momento, de evoluir além dos números atuais (na faixa de 37%). Após as Convenções e com o início dos programas televisivos o quadro tende a se modificar. Por enquanto é empate técnico e numérico!