INFLUÊNCIA DAS PESQUISAS (III)

Eleitora

“Você disse que a eleição da Bahia, em 2006, é um famoso contra-exemplo do voto útil, uma espécie de voto útil ao contrário. Como é esse caso”?

Maurício Costa Romão

Esse exemplo da Bahia é singular, pois ele serve a vários propósitos. Na eleição para governador da Bahia, em 2006, Paulo Souto, então candidato à reeleição, registrava no Ibope 56,5% contra 36,5% de Jaques Wagner, 20 pontos de diferença, isso no dia 25 de setembro, segunda-feira da semana do pleito. Souto já era tido por todos como vencedor no primeiro turno. No domingo, dia 1º, quem ganhou a eleição no primeiro turno foi Wagner, com 10 pontos de vantagem!

Então o voto útil aí não funcionou. A explicação da pesquisadora alemã não cabe nessa eleição. Outro contra-exemplo interessante deu-se na eleição municipal de 2004 em Chapecó, importante cidade catarinense de mais de 100 mil eleitores. Fez-se a seguinte pergunta ao eleitor: “se as pesquisas informarem que seu candidato vai perder, você manterá seu voto ou mudará de voto?” 92% dos eleitores reafirmaram o propósito de manter o voto no candidato de sua preferência, mesmo sabendo, como mostravam as pesquisas, que ele iria ser derrotado nas eleições.

Vê-se nesse caso de Chapecó que pode haver fortes núcleos de resistência à mudança de opinião, ainda que as pesquisas indiquem inviabilidade eleitoral do candidato de preferência. Esses exemplos mostram a complexidade da temática em questão. Cada situação tem suas especificidades.

Enfim, considero que as pesquisas influenciam uma parcela do eleitorado, notadamente os de renda e escolaridade mais baixas, mas não a ponto de definir eleições. Para um candidato que está na frente em intenção de votos a pesquisa funciona como uma peça de seu marketing, assim como ele usa sua propaganda, seu jingle de campanha, etc. Nesta circunstância, o candidato estimula o voto útil. Mas ganhar eleição mesmo, quem ganha é o candidato, não é a pesquisa.

 

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