
Maurício Costa Romão
Após algumas estimativas incorretas no primeiro turno da eleição de 2012, o que reavivou as críticas aos institutos de pesquisa, o Ibope e o Datafolha, através de seus dirigentes técnicos, Márcia Cavallari e Mauro Paulino, em respectivo, deram exatamente a mesma justificativa para a ocorrência dos resultados diferentes dos registrados nas urnas.
Os executivos tributam tais disparidades a um fenômeno que se tem detectado recentemente nas eleições brasileiras: a paulatina mudança de comportamento do eleitorado que, cada vez mais, posterga sua decisão de voto para os dias finais das eleições.
Isso traz à tona um desafio adicional para as pesquisas eleitorais: o aumento do já elevado grau de volatilidade do eleitorado e a consequente imprevisibilidade do voto, ou, simplificadamente, “a volatilidade do voto”.
Nas eleições municipais de 2012 essa volatilidade ficou patente, conforme mostram os dados desfilados na tabela que acompanha o texto. Com efeito, nas pesquisas do Datafolha de um dia antes das eleições a média de eleitores indecisos e que não sabiam em quem votar ou que não responderam a pergunta espontânea sobre intenção de voto em candidatos chegou a 21%, em algumas capitais selecionadas.
Como lidar com uma situação em que 21% dos eleitores não declararam candidato na pesquisa de antevéspera ou de véspera do pleito? Só se vai saber a destinação desses 21% de votos depois dos eleitores pressionarem a tecla “confirma”. Antes disso, não há como prever.
Aí pode acontecer como no primeiro turno da eleição em Teresina. Na antevéspera da votação, o Ibope apontou o candidato à reeleição, prefeito Elmano Férrer (PTB), oito pontos de percentagem à frente do segundo colocado, ex-prefeito Firmino Filho (PSDB). Abertas as urnas, o tucano é quem ficou cinco pontos acima do oponente petebista.
O grande desafio das pesquisas, então, é desenvolver tecnologias que permitam captar alguns sinais do pensamento do eleitor que se mantém reticente em decidir seu voto com alguma antecedência do pleito, vale dizer, antes das pesquisas de véspera.
Neste sentido, uma proposta recente* introduz o “fator de volatilidade do voto”, possibilitando aumentar a amplitude de erro amostral, de sorte à incorporar parâmetro que seja uma proxy da volatilidade recém detectada no comportamento do eleitorado brasileiro.
Entretanto, a inovação é apenas uma técnica de mensuração que amplia a zona de conforto dos institutos, elastecendo o campo de variabilidade do erro de sorte a acomodar as tais incertezas de voto. Não enfrenta a incapacidade tecnológica dos institutos para lidar com aumentos no grau de imprevisibilidade do voto, em particular, e com as “ondas de opinião”, em geral.
É no desenho da pesquisa e no trabalho de campo que residem as grandes provocações da criatividade dos institutos.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br.
*Introduzindo o “fator de volatilidade do voto” nas pesquisas eleitorais, disponível no blog https://mauricioromao.blog.br.