Maurício Costa Romão
Desde os movimentos insurgentes de junho passado os institutos de pesquisa vêm detectando que os brasileiros querem mudanças na condução político-administrativa do país.
Capturados os percentuais dos que querem mudanças os institutos, ato contínuo, inquirem os entrevistados sobre quem está mais preparado para fazer mudanças no Brasil.
Há um problema, contudo, no caso do Datafolha. A forma pela qual o instituto está relacionando a pergunta sobre se o eleitor prefere mudanças, e a pergunta subsequente, sobre quem estaria mais preparado para fazer mudanças, está induzindo a mídia a erros de análise.
Com efeito, veja-se o exemplo do próprio jornal Folha de S.Paulo (23 de fevereiro de 2014), em matéria assinada pelo jornalista Fernando Rodrigues, sob o título“Brasileiro quer mudança, mas com petistas”:
“… Agora, 67% dizem desejar que o próximo presidente adote ações diferentes da atual administração. Desta vez, o Datafolha foi além no levantamento dos dias 19 e 20 e indagou aos entrevistados qual dos pré-candidatos a presidente estaria mais preparado para adotar as tais mudanças no jeito de governar o país” (grifo nosso, MCR).
Segue-se uma relação de nomes na matéria com as percentagens respectivas de respostas à dita indagação, onde Lula (28%) e Dilma (19%) aparecem nas duas primeiras colocações.
Como o texto do jornalista afirmava que o Datafolha indagou quem desses nomes era mais preparado para “adotar tais mudanças”, supunha-se, por óbvio, que os percentuais associados aos nomes listados fossem derivados do universo dos 67% que queriam mudanças.
Indo diretamente ao questionário da pesquisa, observa-se, todavia, que não foi o caso: a indagação consequente (“quem desses nomes…”) não está ligada à pergunta antecedente (“você prefere que a maior parte das ações…”). Na verdade, o questionário revela que se trata de duas questões completamente independentes.
Quer dizer, os percentuais correspondentes aos nomes “mais preparados para realizar mudanças” não decorrem apenas do segmento do eleitorado que quer mudanças, mas de toda a população, incluindo o contingente que não quer mudanças.
Assim, já de saída, o título da matéria (“Brasileiro quer mudança, mas com petistas”), faz uma ilação indevida: junta dois universos distintos, tratando-os como se um derivasse do outro. É um raciocínio falacioso, que permeia todo o corpo da matéria.
O instituto voltou a incidir no mesmo equívoco nesta pesquisa de agora dos dias 3 e 4 de abril. A maioria absoluta da mídia, mais uma vez, foi induzida a erro. Dois exemplos típicos, apenas à guisa de ilustração:
“Há um desejo de mudança, de melhora, de iniciativas corajosas. Mas aí vem o detalhe: entre os que querem novos ares, a maioria considera que o mais apto a fazer isso é Lula, seguida de Marina e, depois, por…Dilma!” Ricardo Melo, FSP, 7/04/2014. Ênfase no original e grifo nosso (MCR).
“…o levantamento do Datafolha aponta que a maioria dos eleitores quer mudanças na condução do País – 72%. No entanto, Aécio e Campos são os últimos nomes apontados como aptos a conduzirem essa mudança, com 13% e 7%, respectivamente. A própria Dilma tem 16% da preferência para conduzir essas mudanças, metade dos 32% obtidos por Lula e em empate técnico com os 17% de Marina”. Portal do Estadão, 6/04/2014, grifo nosso (MCR).
Dessa pesquisa não dá para extrair tais conclusões diretamente, pela simples razão de que a pergunta que dá origem às respostas não foi formulada. É oportuno repisar: os percentuais publicados não são derivados do conjunto dos 72% que querem mudanças, mas de todo o universo dos entrevistados, inclusive dos 24% que não querem mudanças.
O Ibope, ao contrário, na pesquisa de 13 a 17 de março, fez a seguinte pergunta, mas só para quem desejava mudanças:
E ainda falando sobre mudanças no governo, o(a) sr(a) deseja mudanças no Governo, mas com Dilma na Presidência ou mudanças no governo com outro Presidente no lugar de Dilma?
63% disseram que queriam mudanças no governo, com outro presidente no lugar de Dilma e 27% afirmaram querer mudanças, mas com Dilma na presidência.
Enfim, a preferência do eleitorado pelos nomes desfilados no Datafolha para levar à frente as tais mudanças reclamadas pode ser até aquela mesma que foi publicada, mas isso só pode ser confirmado mediante pergunta apropriada aos que declaram querer mudanças.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br
Você poderia publicar como ficaram as coligações para Deputado Estadual e Federal em Pernambuco. Ex: O PSDB está coligado a quem para Federal; quais as chapinhas para estadual e assim por diante.
Um abraço.
Chico Granja