
Maurício Costa Romão
Os níveis de intenção de votos desfilados pela presidente Dilma Rousseff nos meses de maio a julho deste ano são até equivalentes aos que exibia na sua vitoriosa corrida ao Palácio do Planalto em 2010, conforme se pode observar no gráfico que acompanha o texto.
A diferença reside nos contextos de cada momento. No mês de julho de 2010, por exemplo, o governo desfrutava de grande aprovação (77% de ótimo e bom e apenas 4% de ruim e péssimo, de acordo com o Datafolha), a economia ia bem e os níveis de satisfação e expectativa da população eram elevados.
O ambiente de hoje é completamente oposto àquele: baixa aprovação do governo (31% de ótimo e bom e 33% de ruim e péssimo, segundo o Ibope de junho e julho), a economia vai capengando e grassam insatisfação e inquietude na sociedade. As trajetórias das linhas azul (ascendente) e vermelha (descendente) no gráfico retratam os desenvolvimentos dos dois momentos aludidos.
Mesmo enfrentado resistências à sua pretensão de reeleger-se, notoriamente após as manifestações de meados do ano passado, a presidente Dilma Rousseff ainda lidera com relativa folga as intenções de voto em todas as pesquisas, não obstante com percentuais menos robustos e, via de regra, mais próximos da somatória de intenção de votos dos concorrentes.
Apenas à guisa de comparação, nos mês de julho do ano em que disputaram a reeleição, Fernando Henrique Cardoso (1998) alcançava no Datafolha 40% de intenção de votos, e Lula (2006), numa média de cinco pesquisas, pontuava 44%, segundo o banco de dados de Fernando Rodrigues/UOL. Percentuais maiores do que os que Dilma desfruta hoje, mas não tão distantes de serem alcançados pela presidente mais à frente.
Mas o que chama à atenção atualmente é essa resiliência dos eleitores em premiar os principais concorrentes, ditos de oposição ao governo, com percentuais mais generosos de intenção de votos.
Isso significa que os adversários diretos de Dilma estão tendo dificuldades de se beneficiar do desgaste do governo e da queda de popularidade da presidente. Não empolgaram grande parte dos insatisfeitos, não trouxeram emoção à disputa. E por quê?
Pode ser o desequilíbrio da competição, devido ao privilégio do exercício da incumbência pela presidente, extraordinária vantagem que desfavorece os demais postulantes, sem a força do poder e bem menos conhecidos da população.
Mas pode ser também ausência de empatia com o eleitorado, falta de coerência nos discursos, carência de propostas concretas e realistas. Ou pode ser tudo isso ao mesmo tempo.
Ainda restam mais dois meses e meio de campanha, período permeado com 45 dias de tempo de rádio e TV. A letargia dos números das pesquisas de julho sinaliza que o horário eleitoral vai ser decisivo no pleito deste ano.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, https://mauricioromao.blog.br.