
Por Maurício Costa Romão
Os quatro grandes institutos de pesquisa do país realizaram 51 pesquisas eleitorais de setembro do ano passado até às vésperas da eleição de 03 de outubro: Datafolha (17 pesquisas), Ibope (17), Sensus (9) e Vox Populi (8).
A evolução das intenções de voto captadas por esses levantamentos está retratada na ilustração gráfica que acompanha o texto. Apenas algumas datas do trabalho de campo dessas pesquisas aparecem no gráfico.
Nota-se no gráfico, seguindo a linha vermelha, que desde o início das pesquisas a trajetória de intenções de voto para Dilma Rousseff é crescente até o final de agosto, a partir de que se estabiliza na casa dos 50%, pelo menos até os primeiros 25 dias de setembro, quando há um descenso e passa a gravitar no entorno de 47%.
Já o candidato tucano, José Serra, ainda que tenha estado à frente nas pesquisas no início da série, suas intenções de voto nesse período nunca saíram do patamar de 30% a 40%, ficando estabilizadas no entorno de 35%, até o final de junho, quando passam a decrescer sistematicamente até meados de setembro, período a partir do qual esboçam discreta reação.
Marina Silva, do PV, sempre apresentou uma incrível regularidade nas pesquisas desde o ano passado, com suas intenções de voto variando no intervalo de 5% a 10%. Basta dizer que, em 43 pesquisas realizadas até aproximadamente a metade do mês de setembro, quando a ministra Erenice Guerra sai do governo, a média de intenções de voto de Marina foi de 8,3%. Somente a partir daí, e até a véspera do pleito, ela muda de patamar, atingindo a média de 13,7%.
Mas antes do escândalo que resultou na saída da ministra Erenice do governo Lula, no dia 16 de setembro, foram realizadas 7 pesquisas naquele mês, até a data da exoneração da ex-auxiliar de Dilma: 3 do Datafolha, 2 do Ibope, 1 do Vox Populi e 1 do Sensus. No cômputo dessas pesquisas, a média das intenções de voto de Dilma foi de 50,6% (a maior percentagem foi de 51% e a menor foi 50%).
Isso significa que o potencial de crescimento de Dilma já se havia esgotado antes mesmo do escândalo Erenice. Mas como as intenções de voto de Serra (média de 26,3%, do início de setembro deste ano até a saída de Erenice) e Marina (média de 9,7%, no mesmo lapso de tempo) não evoluíam positivamente, a distância de Dilma para as candidaturas opostas continuava sinalizando desfecho no primeiro turno.
Com a grande repercussão do escândalo, principalmente, mais algumas controvérsias sobre questões religiosas, de menor impacto, os números das pesquisas passaram a apontar para os seguintes movimentos: a paulatina e progressiva ascensão das intenções de voto de Marina Silva e a gradual queda das consignadas a Dilma Rousseff, bem como um discreto crescimento das conferidas a José Serra, achatando a diferença entre os dois pólos e tornando imprevisível a finalização do pleito em 03 de outubro.
Desde a saída de Erenice até o dia 2 de outubro foram realizadas 9 pesquisas: 4 do Datafolha, 3 do Ibope, 1 do Sensus e 1 do Vox Populi. A média de intenções de voto de Dilma caiu para 48,3%, a de Marina teve um crescimento vigoroso e evoluiu para 13,3%, enquanto a de Serra subiu ligeiramente e passou para 27,6%.
As duas últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope, ambas com trabalho de campo nos dias 01 e 02 de outubro, às vésperas da eleição, apresentaram números rigorosamente iguais: Dilma com 47%, Serra com 29%, e Marina com 16%, configurando empate técnico entre os votos da petista e a soma dos dois candidatos (incluindo 1% para os demais).
Acontecia o pior para a situação: surpreendente crescimento de Marina, combinado com discreta recuperação de Serra e queda de Dilma. Ou seja, a tão decantada vitória petista no primeiro turno já não parecia assim tão certa.
Em votos válidos, as duas pesquisas mencionadas cravavam, na média, 50,5% para Dilma e 49,5% para os outros candidatos. O eleitorado estava dividido meio a meio. Tudo era incerteza para o dia 03 de outubro…
O caso Erenice foi decisivo para as mudanças de intenção de votos ocorridas no final de setembro e nos dois primeiros dias de outubro. E isso tem sido dito urbi et orbi. O que se revelou de pouco destaque é que bem antes da repercussão do episódio a candidatura de Dilma já estava sem crescer, estancada na casa dos 50% de intenção de votos.