ENSINO SUPERIOR E O ANIVERSÁRIO DA ABMES

Maurício Costa Romão

 Quando a ABMES foi fundada, em 1982, o panorama do setor privado na educação superior brasileira já se desenhava em franca ascensão, compreendendo 70% das instituições de ensino e 61% dos alunos do país.

Essa crescente presença despertou a atenção de empreendedores da área para a criação de uma entidade que pudesse representar nacionalmente a categoria de mantenedores, nascendo assim a ABMES, órgão que viria a protagonizar marcante papel nas discussões dos grandes temas afetos à educação superior.

Na atualidade os números (arredondados) da educação superior no Brasil chamam a atenção pela grandiosidade: são 2.500 instituições de ensino, oferecendo 38.000 cursos, onde estão matriculados 8,5 milhões de alunos – quantidade maior do que as populações de 104 países do mundo – e 350.000 docentes.

Na esteira dessa dimensão, a pujança numérica do ensino superior privado detectada pelos dirigentes mantenedores na década de 80, motivando a criação da ABMES, predomina hoje em dia com quantitativos ainda mais vistosos: 88% das instituições, 70% dos cursos, 75% dos alunos e 51% dos professores.

Não obstante a magnanimidade numérica, o país está longe de alcançar patamares desejáveis de jovens freqüentando o ensino superior, apesar dos avanços recentes.

Dados de 2018 (SEMESP) indicam que apenas 19% do contingente na faixa etária apropriada de 18 a 24 anos estão cursando esse nível, muito distante da meta de 33% estipulada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para ser alcançada até 2024.

Inobstante o requisito moderno de valorização do conhecimento, habilidades e competências, a grande aspiração da larga maioria dos jovens no Brasil ainda é a obtenção de diploma universitário (maior formação, maior status social, maior salário, maior empregabilidade). Contrario sensu, permanece muito baixa a proporção da população com curso superior concluído.

Com efeito, segundo dados recentes do INEP (2018), na faixa etária de 25 a 34 anos o Brasil tem apenas 20% da população com nível universitário completo. Países vizinhos da América do Sul, como Colômbia (29%), Chile (34%) e Argentina (40%) de há muito já atingiram índices maiores. Isso sem falar no cotejamento com nações líderes nesse quesito, como Coréia do Sul (70%) e Rússia (63%), ou com a média da OECD (44%).

Nesse diapasão, o cumprimento da meta do PNE está fora de alcance e, por via de conseqüência, será difícil para o país aproximar-se da média adequada de universitários formados para a coorte em questão.

Atenta a essas dificuldades, a ABMES tem pautado sua missão chamando à atenção para os problemas estruturais e conjunturais da área, mas, sobretudo, contribuindo para os governos com propostas que visem à definição de políticas públicas para enfrentamento dos déficits históricos conhecidos.

Ainda agora com o inusitado advento da pandemia da covid-19, fenômeno que foi particularmente grave para o ensino universitário privado, a ABMES, no escopo do seu papel institucional, mobilizou-se rapidamente em assistência aos associados e em interlocução com instâncias públicas e governamentais.

Nesse mister, promoveu reuniões, estudos, pesquisas e seminários sobre a as questões sanitárias, jurídicas e pedagógicas pertinentes ao excepcional momento, a par de interagir com várias esferas do aparato institucional público, no sentido de ajudar em iniciativas de mitigação da crise.

Pela sua importância enquanto entidade de classe, e pelo seu relevante histórico de atuação em prol da educação superior no Brasil, a ABMES merece todas as honrarias que lhe são endereçadas no seu festejado 38º aniversário. Parabéns!

————————————————————————

Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. mauricio-romao@uol.com.br

Deixe um comentário