
Por Maurício Costa Romão

Um fenômeno muito comum e que gera certa controvérsia em pesquisas eleitorais é a ocorrência de empate técnico entre candidatos. Considera-se empate técnico entre dois ou mais candidatos quando a diferença entre os percentuais de intenção de voto estimados para esses candidatos se encontra dentro da margem de erro das pesquisas, ou seja, quando há superposição de pontos dos respectivos intervalos de variabilidade das intenções de voto dos candidatos.
Veja-se o exemplo apresentado na Ilustração a seguir, extraído da eleição para Prefeito em 2004 no município de Barra Mansa, no Rio de Janeiro. Note-se, inicialmente, que a margem de erro da pesquisa é de 5,6% para mais e para menos (amplitude de 11,2 pontos de percentagem), margem considerada muito alta para pesquisas eleitorais, o que favorece, inclusive, a ocorrência de empate técnico.
O intervalo de confiança é de 95%. No levantamento, o candidato Brasil teve 28% das intenções de voto, a candidata Inês apareceu com 25% e o candidato Guto ficou em terceiro lugar, com 20%.
Com uma intenção de voto de 28%, porém submetida a uma margem de erro de 5,6%, a votação esperada de Brasil, se o pleito fosse realizado naquela época em que a pesquisa foi a campo, tanto poderia ser de 22,4%, quanto 33,6% dos votos dos eleitores, ou de qualquer percentual entre esses dois. No mesmo diapasão, a variabilidade da votação esperada de Inês gravitava no intervalo de 19,4% a 30,6% e a de Guto, de 14,4% a 25,6%.
Este é um caso típico de empate técnico entre os três candidatos, pois há justaposição (overlapping) em alguns pontos de seus respectivos intervalos nos quais variam suas intenções de voto.
É digna de realce, na Ilustração, a existência de um núcleo central de percentagens que podem ser obtidas por todos os candidatos: é o que vai de 22,4% a 25,6%. Nesse intervalo há empate técnico entre os três candidatos. Nos demais pontos, ora empatam Brasil com Inês, ora esta com Guto. Somente no núcleo central é que há empate entre os três.
Então, não se pode fazer nenhuma previsão bem fundamentada sobre os resultados esperados dessa eleição, exceto a de que os postulantes, na época da pesquisa, estavam empatados tecnicamente. A vitória poderia sorrir para qualquer um. Não há como dizer nem mesmo quem está em primeiro lugar na pesquisa. Pode ser qualquer um dos três postulantes.
Abertas as urnas, os resultados oficiais apontaram a vitória do candidato Brasil, com 59,2% dos votos, vindo em seguida Inês, com 18,6% e, por último, Guto, com 17,9%. Portanto, o nome do vencedor e a ordem de classificação dos candidatos foram preservados.
É bom lembrar que a pesquisa comentada foi realizada em março, quase sete meses antes do pleito, o que pode ter sido o motivo de tanta liberalidade na margem de erro.