(Publicado no Jornal do Commercio, PE, em 04/06/2019)
Maurício Costa Romão
O ensino superior brasileiro é predominantemente privado, compreendendo 88% das instituições, 70% dos cursos e 75% dos alunos (Inep, 2017).
O segmento experimentou significativo crescimento de matrículas na graduação no período 2006-2014, quando evoluiu a uma taxa média anual de 6,2%. Entretanto, este ritmo diminuiu acentuadamente no lapso de tempo de 2015 a 2017 (incremento anual de apenas 1,4%), coincidente com forte recessão no país, graves problemas sócio-políticos e redução de financiamento estudantil.
A permanecer esse baixo desempenho de 1,4%, o setor privado passará das atuais 6,2 milhões de matrículas (Inep, 2017) para 6,5 milhões em 2020, acréscimo insignificante, dada a magnitude da ociosidade de vagas. De fato, das 10,0 milhões de vagas de graduação ofertadas em 2017 na rede privada, apenas 2,6 milhões foram preenchidas, um índice de ocupação de apenas 26% (Inep, 2017).
Um sério obstáculo associado a esse encalhe de vagas é o fato de que tanto o número de matrículas quanto o de concluintes no ensino médio têm caído desde 2012. As matrículas involuíram à taxa média anual de -1,1% (2012-2017) e os concluintes a -0,7% (2012-2016).
Quer dizer, a fonte primária de ocupação das vagas universitárias – alunos egressos do ensino médio – está em declínio. Para o futuro próximo então, segue-se a inevitável seqüência: menos ingressantes no ensino médio, menos concluintes, menos candidatos às vagas universitárias…
O desafio anual do segmento privado é atrair esses estudantes concluintes do ensino médio (1,8 milhões, em média) e avançar na captação de alunos que terminaram essa etapa e não continuaram seus estudos em nível superior, uma oferta potencial estimada hoje em 9,0 milhões de pessoas, somente de alunos de 18 a 24 anos (Hope Educação, 2018), a par, também, de estancar a evasão (crise econômica + déficit de aprendizagem trazido da formação básica).
A questão é como fazer isso agora, num contexto de sérios problemas econômicos do país, com massivo desemprego de jovens e adultos e redução de financiamento público?
A realidade de mercado para a educação superior está dada (dificuldades de captação e permanência de alunos) e requer novas estratégias, diferentes das aplicadas nas épocas áureas. Em tempo: educação a distância ajuda, mas não resolve a crise.
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Maurício Costa Romão, é Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. mauricio-romao@uol.com.br