Marcos Coimbra
Blog do Noblat, 25/07/2012
Apesar de tudo que sabemos a respeito da falta de capacidade preditiva das pesquisas de intenção de voto realizadas a esta altura do processo eleitoral, a cada vez que são publicados resultados – especialmente quando se referem a um conjunto um pouco mais amplo de cidades -, um mesmo cenário se repete.
Entre os candidatos, os líderes se animam, achando que estão fazendo tudo certo. Os outros olham seus assessores com desconfiança, tentando descobrir onde erraram.
Na opinião pública, os que torcem pelos que estão na frente se alegram. Quem prefere um dos demais se angustia.
Os analistas saem em disparada para comentá-las, cada um querendo dar a interpretação definitiva. A imprensa se enche de elucubrações sobre o “recado das urnas” e vaticínios sobre as consequências da eleição – sem que ela tenha sequer começado.
Isso acaba de acontecer a propósito da recente rodada de pesquisas que o Datafolha realizou em sete capitais.
Em nenhuma houve novidades relevantes. Todas repetiram o que já havia sido apontado por levantamentos anteriores.
A razão para isso é simples: embora, oficialmente, as campanhas tenham se iniciado há vinte dias, elas não chegaram à televisão.
Por isso, nada mudou de relevante na informação que atinge a grande maioria do eleitorado. Ela permanece desinteressada e desinformada.
O tempo anda depressa no meio político e devagar para o eleitor. Enquanto os profissionais correm contra o relógio, o cidadão vai passo a passo até a eleição.
Ela começa, de fato, nos 45 dias finais. Só então entra no cotidiano.
Agradeça-se à nossa legislação por isso. Com sua obsessão por controlar a “antecipação” da campanha, o que ela faz é retardá-la para muito depois do que seria recomendável na democracia.
Como se fosse superior a decisão eleitoral tomada em cima da hora!
É inútil querer descobrir quem vai ganhar a eleição de prefeito com base nas pesquisas atuais. Repetindo um chavão pouco inspirado, elas não são mais que fotografias de um momento que pouco tem a ver com o que acontecerá de 21 de agosto em diante, quando começa a propaganda eleitoral gratuita.
Nas cidades com televisão, só ocasionalmente elas conseguem antecipar o resultado.
Quem duvidar, que considere as mesmas sete que entraram nessa rodada nas duas últimas eleições.
Em julho de 2004, apenas no Rio de Janeiro o vencedor já aparecia em primeiro lugar. César Maia (DEM) tinha uma folgada frente sobre os adversários, semelhante à que obteve na urna. Em todas as outras, o campeão na pesquisa perdeu.
Mesmo quem não precisou do segundo turno estava atrás – como Fernando Pimentel (PT), em Belo Horizonte. E candidatos que amargavam o quarto lugar terminaram ganhando – como Luizianne Lins (PT), em Fortaleza.
Em 2008, coisa semelhante. Dos líderes de antes da televisão, só dois acabaram vitoriosos: José Fogaça (PMDB), em Porto Alegre, e Beto Richa (PSDB), em Curitiba. Os restantes se deram mal.
Vários candidatos que estavam em terceiro lugar comemoraram em outubro: Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte, Gilberto Kassab (PSD), em São Paulo, Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro, João da Costa (PT), no Recife.
Em outras palavras: de 14 processos eleitorais, somente em três o prognóstico de julho foi confirmado, o que equivale a uma taxa de acerto de 20%. Ou a não acertar em 80% dos casos.
Melhor fariam os comentaristas se evitassem precipitar-se e procurassem apenas entender os resultados de agora.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi