Editorial do Jornal do Commercio (PE) do dia 17.08.2010
A eleição invade a mídia. Os políticos e seus times de comunicação lançam suas fichas mais altas atrás da conquista do voto. A campanha entra na sua fase decisiva hoje, quando passam a ser veiculados no rádio e na televisão os comerciais e programas gravados pelos candidatos para o horário eleitoral gratuito, conhecido entre nós como guia eleitoral. Serão 45 dias de propaganda política, de acordo com a legislação que impõe às emissoras a liberação do espaço, com o objetivo de aproximar o eleitor dos postulantes, este ano, aos cargos de presidente da República, governador de Estado, senador, deputado federal e deputado estadual.
A distribuição do tempo é feita entre os partidos – e não entre os candidatos, o que reforça a importância das coligações. Um terço do tempo disponível é repartido igualmente entre todas as coligações, e os outros dois terços, proporcionalmente ao número de representantes de cada partido na Câmara dos Deputados. Quanto mais parlamentares, mais tempo o partido dispõe na divisão da propaganda gratuita nos veículos de rádio e TV.
Com pausa apenas aos domingos, o guia eleitoral será exibido diariamente em dois horários, das 13h às 13h50 e das 20h30 às 21h25. No rádio, vai das 7h às 7h55 e das 12h às 12h50. Os candidatos ao governo, ao Senado e a uma vaga na Assembléia ocupam o espaço às segundas, quartas e sextas, enquanto as terças, quintas e sábados são reservados para candidatos a presidente e à Câmara dos Deputados. As inserções de 30 segundos são encaixadas na programação ao longo do dia.
Para os candidatos, o guia é uma oportunidade para consolidar a imagem – no caso dos mais conhecidos – ou se apresentar ao eleitorado, se o candidato estiver estreando na vida pública ou enfrentando disputa inédita que necessite da ampliação do espectro dos votos. Infelizmente, nas últimas eleições, o domínio do marketing sobre a política tem prejudicado o alcance de informações relevantes sobre os postulantes. Muitos candidatos terminam engessados por mantras de campanha que comunicam muito menos do que desejariam seus inventores. Outros, para evitar o confronto saudável de visões de mundo, idéias programáticas e comparações objetivas, recorrem ao limitado cardápio dos marqueteiros para mostrar propostas genéricas que parecem requentadas de outras eleições – e muitas vezes o são, já que profissionais de comunicação rodam o País, a cada dois anos. Ao sucumbir ao canto de sereia do marketing, o político tem grande chance de transformar a chance de ouro representada pelo guia em uma oportunidade perdida.
Mas quem não pode perder a chance de se informar é o cidadão. Ainda que o formato seja repetitivo e impere a mesmice na comunicação dos programas de governo e nas bandeiras parlamentares, o eleitor precisa aproveitar o guia para, ao menos, ficar a par do que dizem os candidatos, quando lhes é dada a possibilidade de aparecer na mídia por conta própria em horário nobre para pedir votos.
Há outras fontes de conhecimento que permitem o aprofundamento das informações, e o maior acesso à internet faz com que qualquer indivíduo seja capaz de pesquisar antecedentes dos postulantes. O papel do guia é muito mais de abrir a curiosidade do eleitor sobre os candidatos que lhe pareçam interessantes, dignos de confiança e merecedores de sua escolha. A democracia é construída sobre escolhas, e essas escolhas são definidas, em larga medida, na era da imagem, pelas impressões deixadas a partir da exibição do guia eleitoral.
Este ano, as campanhas para presidente e para o governo de Pernambuco trazem a expectativa de embates no ringue da comunicação. O cotejo de períodos de governo distintos será inevitável, e não pode ser relegado pelo marketing bem comportado. Enquanto o cidadão espera o que as equipes de produção estão preparando, resta a torcida para que se mantenha o nível do debate, sem denuncismo apelativo que levanta a sensação de desespero e diminui o valor da exposição democrática.