Ana Carolina Peliz
Blog do Noblat, 10/05/2012
Eu cheguei a Paris em 2007, alguns meses antes de Nicolas Sarkozy ser eleito presidente e acompanhei todo seu mandato. Sua chegada ao poder gerou expectativas como nenhum outro chefe de Estado anterior e seu discurso e suas atitudes marcaram definitivamente a maneira de fazer política na França.
No começo, eu olhava com curiosidade esse homem que prometia uma flexibilização do mercado de trabalho, apontava a Inglaterra como modelo a ser seguido e tentava seduzir a extrema-direita. Uma figura onipresente e narcisista, que sabia liderar, mas não era capaz de criar consenso.
Mais detestado que adorado, uma coisa é certa, Sarkozy não deixou ninguém indiferente. Ele tinha um estilo pessoal de governar, sem nada em comum com a direita tradicional francesa.
Durante seu mandato, todos os poderes ficaram concentrados em suas mãos, relegando o primeiro-ministro a um papel figurativo.
Não tinha diploma de uma grande universidade como a grande maioria de seus antecessores e, apesar de adorar os Estados Unidos, não falava inglês.
Sempre viveu entre os ricos, gostava do luxo e do dinheiro, o que lhe valeu o apelido de presidente “bling bling”, uma onomatopeia do barulho das joias.
Sarkozy não conseguia viver longe dos holofotes. Os franceses acompanharam durante os cinco anos que esteve no poder, todas suas desventuras e aventuras amorosas.
Divorciou-se de sua segunda esposa, Cecilia Ciganer, casou-se com a ex-modelo e cantora milionária, Carla Bruni, e teve uma filha.
Era autêntico, falava o que pensava. Muitas vezes impulsivo, em várias situações usou um vocabulário impróprio para alguém que ocupava seu cargo.
Na esfera econômica, o resultado de seu governo foi o aumento da dívida pública, do déficit e do número de desempregados. Claro que ele não é o único responsável, pois dirigiu o país durante a pior crise dos últimos tempos e, apesar de tudo, a França está entre os países europeus que menos sentiram o problema até agora.
No âmbito social, depois de seu governo, a França está mais dividida do que nunca entre ricos e pobres, franceses e estrangeiros, patrões e empregados.
Sarkozy era, na verdade, o único candidato desta eleição. Os franceses votaram por ou contra ele. Sua imagem desgastada fez com que fosse o grande perdedor da disputa.
“Au revoir”, Nicolas Sarkozy. Não se esqueça de cumprir sua última promessa como chefe de Estado, a de nunca mais se candidatar à presidência.
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.