Estudo diz que bom discurso irrita cerca de 30% dos eleitores; tentar agradar a todos pode ser contraproducente
EM VEZ DE TENTAR CAPTAR O ELEITOR QUASE IMPOSSÍVEL, É MAIS PROVEITOSO AO POSTULANTE TER UM DISCURSO AUTÊNTICO
HÉLIO SCHWARTSMAN, Folha de S.Paulo, 30/05/2010
Fugir de temas polêmicos para não contrariar nenhum eleitor potencial -como parece ser a regra entre os candidatos a cargos majoritários- pode ser contraproducente. Essa é a opinião do psicólogo especializado em eleições Drew Westen, da Universidade Emory (EUA).
Westen, autor do livro “The Political Brain” (o cérebro político), vai mais longe e sustenta que quem tem um bom discurso de campanha precisa irritar profundamente uns 30% do eleitorado.
Tal afirmação se baseia num corpo crescente de pesquisas em neurociência que apontam para um eleitor muito mais emocional do que racional. O que os mais cultos e politizados fazem é desenvolver racionalizações mais sofisticadas para justificar suas escolhas, também feitas muito mais com o fígado do que com a cabeça.
E, qualquer que seja o político, ele fatalmente terá uma fatia de cerca de um terço dos cidadãos que só por milagre votariam em seu nome. São pessoas que se encontram no polo oposto do espectro político ou que antipatizam fortemente com o candidato.
Segundo Westen, em vez de tentar capturar esse eleitor quase impossível, é muito mais proveitoso para o postulante formular um discurso autêntico sobre si mesmo e os seus valores. O político que não diz o que pensa passa uma sensação de que não é lá muito honesto.
Uma narrativa que fale diretamente ao cérebro emocional do cidadão, em que pese alienar uma minoria expressiva, é mais eficiente para atrair o eleitorado dividido, que costuma decidir os pleitos, além de mobilizar mais os já simpatizantes.